Publicado originalmente em 07 de Fevereiro de 2022, em Militant Wire.
Nota: A publicação original tem várias fotos que são propaganda dos grupos fascistas citados, pessoalmente não me sinto confortável espalhando esse conteúdo, por isso não vou republicar, mas se te der curiosidade, é só clicar no link ali de cima.
Os Ataques
Anarquistas de Thessaloniki reivindicaram separadamente, ataques que aconteceram em Janeiro de 2022, a veículos pessoais e apartamentos pertencentes a dois homens supostamente ligados ao grupo neofascista Sacred Company.
Em 10 de Janeiro, um carro pertencente a um ex-soldado do exército grego foi destruído, o homem é conhecido por ter ligação com fascistas, os responsáveis deixaram um dispositivo incendiário aceso no painel do carro antes de escaparem. No comunicado assumindo a responsabilidade pelos atos, os autores dedicaram os ataques de 10 de Janeiro ao despejo da okupa que existia há 34 anos, na Universidade Aristóteles de Thessalonik, no campus de biologia.
Apenas duas semanas depois, em 27 de Janeiro, um IID (dispositivo incendiário improvisado) construído com botijões de butano ou propano, foi deixado na entrada do prédio de outro homem, também alegadamente, membro da organização fascista Sacred Company. O IID foi detonado e como reportado, causou dano ao exterior do prédio. Os autores atribuíram esse segundo ataque ao aniversário da Crise Imia/Kardak (1996) – quando a Grécia e a Turquia quase entraram em guerra pela posse de uma ilha desabitada no Mar Egeu. O aniversário de Imia, e a morte de três oficiais da marinha grega durante o incidente é rememorado pela extrema-direita grega todo Janeiro.
Botijões de gás IID tipicamente utilizados pelos anarquistas gregos.
Após reivindicar os ataques, o comunicado clama por mais ações diretas contra fascistas:
Nós chamamos o mundo da militância antifascista a ação. Os dias em que fascistas agem e andam em sem medo precisam acabar. Sejam eles ΕΝΕΘ ou Sacred Company, sejam eles da parte oeste ou leste da cidade, devem ser esmagados em todos os bairros.
“ΕΝΕΘ” se refere ao movimento fascista em Thessaloniki que tem sido particularmente militante nos últimos anos, também chamada Juventude Nacionalista de Tessaloniki.
EΝΕΘ surge com a dissolução do partido-milícia Golden Dawn, após um julgamento onde foram classificados como organização criminosa. (A maioria dos líderes da Golden Dawn permanecem atrás das grades após serem indiciados por terem ordenado diretamente o assassinato do rapper antifascista Pavlos Fyssas, em 2013)
Thessaloniki: Uma incubadora da Direita
Nos últimos 4-5 anos, os grupos pós-Golden Dawn tem sido especialmente descarados no norte da Grécia, com os incidentes mais polêmicos sendo relacionados a temas que abrangem toda a direita. Em Novembro de 2017, a casa de um menino afegão refugiado que foi escolhido para carregar a bandeira grega durante um desfile nos feriados nacionais, foi violentamente apedrejada. Um grupo misterioso chamado “Krypteia” – inspirados pela “polícia secreta” Espartana que vagava pelo interior aterrorizando a população – assumiu o ato. Em seguida, Krypteia fez vários ataques criminosos contra imigrantes após seu líder, um professor universitário de 48 anos, foi preso em 2019. Em Janeiro de 2018, centenas de milhares de nacionalistas gregos tomaram as ruas de Thessaloniki, capital da Macedônia grega, para protestar pela mudança de nome da antiga República Iuguslava, Macedônia do Norte. Usando a mobilização de massas para agirem, militantes de direita avançaram pelas ruas, vandalizando um memorial do Holocausto e incendiando uma okupa anarquista, Libertatia, (cuja construção havia sobrevivido à ocupação nazista de 1940), depois de atacar um centro educacional anarquista, Sxolio. Meses depois, talvez inspirados por seus camaradas em Thessaloniki, outro recém formado grupo fascista, Apella, detonou múltiplos IIDs na okupa anarquista Piraeus Port. Os membros do Apella tiveram suas casas revistadas pela polícia, que encontrou várias armas e parafernália nazista, o líder do grupo, parece ser um antigo membro da Golden Dawn. É provável que os atuais afiliados a ΕΝΕΘ e Sacred Company, tenham sido responsáveis pelo ataque a Libertatia em Janeiro de 2021.
Libertatia squat, Thessaloniki, January 21, 2018
No Outono de 2021, Thessaloniki foi novamente chocada por uma série de ataques brutais, que duraram uma semana inteira. Estudantes de esquerda e aliados ativistas estavam protestando contra reformas na educação no lado de fora de uma escola técnica na vizinhança de Stavroupoli no oeste de Thessaloniki, quando foram repentinamente atacados por dezenas de membros da juventude fascista, todos de preto, encapuzados, com máscaras e capacetes de motocicleta, empunhando pedras, coquetéis molotov e armas brancas. Enquanto os grupos lutavam, os fascistas ocuparam o prédio da escola, pondo em ação o batalhão do choque (MAT) que assistia. Inicialmente o MAT parecia mais interessado em formar uma barreira entre os dois grupos, do que em expulsar os fascistas do campus, mas isso mudou quando os fascistas começaram a fazer a saudação romana e arremessar objetos contra a polícia. Agentes da MAT dispararam gás lacrimogêneo e balas de borracha até a juventude de direita dispersar. Embates como esse se repetiram no campus por vários dias, e em vários outros locais, inclusive no lado de fora de uma escola em Evosmos onde aproximadamente fascistas atacaram a polícia e jornalistas, até que uma série de mandatos de busca levaram a prisão das lideranças. O “Youth Front” (Frente da Juventude) da Golden Dawn parabenizou os perpetradores durante a semana de violência.
Sacred Company, assim como a extinta Golden Dwan, provavelmente está envolvida direta ou indiretamente com toda atividade da juventude paramilitar de direita em Thessaloniki. Eles estão ativos aproximadAmente desde 20,12, e parecem ser a ligação entre velhos cadres fascistas e os atuais movimentos da juventude fascistas juventude grega. Ambos dos supostos membros da Sacred Company alvos de ataques anarquistas em Janeiro de 2022 são membros mais velhos do movimento.
Conclusão
Com relação ao grupo que reivindicou os dois ataques em Janeiro, contra os supostos membros da Sacred Company, não é a primeira vez que ouvimos falar do Anarchist Against Oblivion. Recentemente eles atacaram a sede da juventude do governo de turno, New Democracy (ND), ΟΝΝΕΔ, com um IID similar ao usado no ataque de
7 de Janeiro contra o suposto membro da Sacred Company. Exceto pelo fato que empregam os mesmos métodos e escolha de alvo, não é sabido (ao menos para este presquisador) se o Anarchist Against Oblivion é formalmente alinhado com a rede mais ampla de grupos anarquistas de guerrilha urbana operando na Grécia desde 2021, a Direct Action Cells (DAC).
Supondo que Anarchists Against Oblivion é outra célula da DAC em Thessalonikim, como é a Organization of Anarchist Action (OAA), a esquerda e pós-esquerda militante na Grécia parece estar se consolidando sob uma mesma bandeira com muito mais sucesso que a extrema direita, que continua cambaleando após o julgamento da Golden Dawn.
Episódios recentes de violência em Thessaloniki são tentativas da extrema-direita de se reorganizar após a expulsão sua expulsão do parlamento. De dentro da sua cela, o líder da Golden Dawn, Ilias Kasidiaris, tem feito um esforço de criar um novo partido após a dissolução do GD. De todo modo, os movimentos de extrema direita de rua, parecem estar encontrando meios de uma vez mais, criarem alianças, conforme a administração da ND volta sua atenção para a fontes de maior “desrespeito a lei” como os enclaves anarquistas ao longo das cidades da Grécia e aparentemente ignora a miltância de direita.
Na Grécia, causas ultra-nacionalistas tem tido sucesso em mobilizar grandes números de gregos de direita pelas ruas de Thessaloniki, primariamente graças a sua proximidade com as fronteiras das Balcans e da Turquia, com que a Grécia tem relações conturbadas. Recentemente a rota de migrações em massa do Oeste das Balcans motivou repetidas mobilizações de rua da direita, e ataques contra centros acolhimento aos imigrantes. As políticas do New Democracy vem mirando nas ações de rua dos anarquistas e da extrema esquerda, fazendo com que esses redobrem seus esforços e intensifiquem seus ataques contra o estado e seus aparentes aliados da direita extra parlamentar. Por mais que Athenas seja historicamente o epicentro da violência política da Grécia, a segunda maior cidade do país vem nos relembrando seu lugar neste conflito de baixa intensidade.