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Author: holasoyp1x0

O Modelo SHAC

Posted on 2025/05/15 - 2025/05/15 by holasoyp1x0

Retirado da Anarchist Library, publicado originalmente pela CrimethInc. em primeiro de Setembro de 2008.

Dedico com carinho a todas e todes que pensam e agem contra as grandes empresas que fazem nossa terra e nossas comunidades sangrarem. Morte ao garimpo, morte as mineradoras, morte as madeireiras. Viva o povo auto organizado e a autodefesa popular.


“Nós estamos cientes desses ativistas, mas não sabemos até que ponto eles estão dispostos a ir.”

– Warren Stevens, que apesar de ter jurado não recuar do investimento de 33 milhões de dólares que faria à Huntingdon Life Sciences, desistiu após encarar protestos nos seus escritórios em Little Rock e vandalismo na sua casa.

“O número de ativistas não é grande, mas o impacto que eles possuem é incrível… É preciso compreender que essa é uma ameaça para todas as indústrias. Essas táticas podem se usadas contra qualquer setor da economia.”

– Brian Cass, diretor da HLS

“Onde todos os grupos de bem estar animal e a maioria dos grupos de direitos dos animais insistem em agir dentro da legalidade, abolicionistas da causa animal insistem que estados são irremediavelmente corruptos e que uma abordagem legal sozinha, nunca irá garantir justiça para os animais.”
– ALF

Na última década, Stop Huntington Animal Cruelty – SHAC – sustentou uma campanha internacional de ação direta contra a Huntington Life Science, a maior empresa europeia de testes em animais. Ao mirar em investidores e parceiros de negócio da HLS, a SHAC repetidamente levou a HLS à beira do colapso, e essa precisou de apoio direto do governo britânico e de uma contra-campanha internacional de repressão para manter a empresa funcionando.

Durante a campanha, haviam propostas de aplicar o modelo SHAC em outros contextos, como defesa ambiental e protestos anti guerra. Mas o que é exatamente o modelo SHAC ? Quais são suas forças e limitações ? É de fato um modelo efetivo ? E se sim, para o quê ?


Primeiro, um Glossário

Visto de fora, o círculo dos direitos dos animais pode ser difícil de compreender, mesmo para outros radicais. Por um lado, o foco intenso nessa única problemática pode contribuir para uma mentalidade mais isolada, ou mesmo míope; Por outro lado, existem incontáveis ativistas da causa animal que veem seus esforços como parte de um conflito maior, contra todas as formas de opressão.

Aqueles que não estão familiarizados com o funcionamento interno destes círculos frequentemente confundem as posições de facções opostas. Aceitando o risco de ser simplista, é possível identificar três escolas de pensamento distintas:

Bem-Estar Animal – A ideia de que animais devem ser tratados com piedade e compaixão, especialmente quando são usados para benefício humano como alimento e produção. Por exemplo, alguns ativistas do bem-estar animal fazem lobby no governo para a criação de leis mais humanas para o abate.
Exemplo: a Sociedade Humana dos Estados Unidos (HSUS)

Direitos dos Animais – A ideia de que animais têm seus próprios interesses e merecem uma legislação que os proteja. Aqueles que acreditam nos direitos dos animais comumente são veganos e se opõem ao uso de animais para o entretenimento, experiências, alimentos ou vestimentas. Eventualmente participam de protestos ou desobediência civil, mas geralmente acreditam em trabalhar de dentro do sistema, através de lobby, marketing, e o uso de mídias corporativas.
Exemplo: Pessoas pelo Tratamento Ético aos Animais (PETA)

Libertação Animal – A ideia de que animais não deveriam ser domesticados ou mantidos em cativeiro. Já que isso não é possível dentro da lógica do atual sistema social e econômico, abolicionistas da causa animal normalmente estão alinhados com o anarquismo, e podem quebrar leis para resgatar animais ou preservar seus habitats.
Exemplo: a Frente de Libertação Animal (ALF)[1]

Muitos grupos com foco no bem-estar e nos direitos dos animais criticam aqueles que se engajam em ação direta, argumentando que tais ações ferem a imagem de todos ativistas e afastam possíveis simpatizantes. Também é possível interpretar essas críticas como motivadas pela intenção de se criar uma base de simpatizantes ricos e pelo medo de ser alvo de repressão governamental. Além de não apoiarem ação direta, proibirem seus funcionários de interagirem com quem as faz, e não participar de conferências que incluam palestrantes mais militantes, organizações como a HSUS já agradeceram ao FBI por reprimir ações do campo da libertação animal. Em 2008, HSUS ofereceu uma recompensa de $2500 para qualquer um que desse informações que levassem a prisão das pessoas envolvidas em um incêndio criminoso, que segundo o FBI, possuía conexões com ativistas dos direitos dos animais.

[1] Diferente do HSUS e PETA, a ALF não é oficialmente uma organização, mas sim uma bandeira sob a qual agem células autônomas que não necessariamente têm conexões umas com as outras.


A História da SHAC: Origens do Outro Lado do Oceano

A campanha da SHAC começa no Reino Unido, após uma série de fechamentos de laboratórios de reprodução animal, onde se usou desde táticas de piquete a invasões da ALF, e confrontos com a polícia. Vídeos gravados secretamente dentro das instalações da HLS em 1997 foram exibidos na televisão britânica, mostrando os funcionários chacoalhando, agredindo e gritando com beagles no laboratório da HLS. Em Novembro de 1999, após ser ameaçado de processo, o PETA parou de organizar protestos contra a HLS, e a SHAC ganhou corpo para avançar a campanha.

Huntington Life Sciences era um inimigo mais formidável que qualquer empresário do ramo da criação de animais; a campanha SHAC foi uma escalada no ativismo pelo direitos dos animais no Reino Unido. A ideia era focar especialmente nas finanças da empresa, usando táticas que já haviam funcionado para fechar pequenos negócios, para liquidar toda a corporação. Ativistas agiram para isolar a HLS assediando qualquer um envolvido com qualquer empresa que fizesse negócio com eles. O papel da SHAC como uma organização era simplesmente de distribuir informação sobre potenciais alvos e reportar as ações conforme iam acontecendo.

Em Janeiro de 2000, ativistas britânicos publicaram uma lista dos maiores acionistas da HLS, incluindo aqueles que mantinham ações através de empresas de fachada, para se manterem anônimos; um deles inclusive, era do partido trabalhista britânico. Após duas semanas de manifestações organizadas, muitos acionistas venderam suas ações; finalmente, 32 milhões em ações foram postas na London Stock Exchanges por um penny cada e as ações da HLS despencaram. Nesse caos, o Banco Real da Escócia concedeu um empréstimo de 11.6 milhões de libras por apenas uma libra, na tentativa de se distanciar da empresa, e o governo britânico arranjou uma conta para eles no Banco da Inglaterra, pois nenhum outro banco queria aceita-los. O preço das ações da companhia, que valiam em torno de 300 libras em 1990, caíram para 1.75 em Janeiro de 2000, estabilizando em 3 no meio de 2001.

Em 21 de Dezembro de 2000, HLS foi retirada da Bolsa de Valores de Nova York; três meses depois, perdeu seu lugar na Bolsa de Valores de Londres também. HLS só foi salva da falência quando o seu maior acionista restante, o banco americano de investimentos Stephens, deu a companhia 15 milhões de dólares de empréstimo. Esse capítulo da história se encerra com a HLS movendo seu centro financeiro para os Estado Unidos para tirar vantagem das leis que permitem maior anonimato para os acionistas.

Nos EUA

Enquanto isso, nos EUA, as campanhas contra abate de animais que caracterizaram a maior parte do ativismo pelos direitos dos animais havia estagnado; as táticas de desobediência civil desenvolvidas nessas campanhas haviam chego a um limite, e muitos ativistas estavam em busca de novos alvos e estratégias. Uma facção dos grupos pelos direitos dos animais, exemplificada pela Vegan Outreach e DC Compassion Over Killing, passou a promover o veganismo. Ativistas mais militantes buscavam outras perspectivas. Alguns, como Kevin Kojnaas, que veio a se tornar presidente da SHAC USA, estiveram no Reino Unido nos anos 90, como militantes antiglobalização, e testemunharam o apogeu da campanha da SHAC britânica, e voltaram trazendo histórias inebriantes de ações do Reclaim the Streets.

A campanha da SHAC EUA surgiu do diálogo entre ativistas pelo direito dos animais em diferentes partes do país. Enquanto a campanha pela divulgação do veganismo buscava apelar para o mínimo denominador comum para convencer consumidores, a SHAC atraiu militantes que queriam fazer um uso mais eficiente de seus esforços individuais. Alguns argumentaram que era pouco provável que todo o mercado baseado em exploração animal fosse vencido pelo veganismo, mas praticamente todos concordavam que matar animaizinhos era intolerável.

A SHAC EUA teve início em Janeiro de 2001, no mesmo momento que Stephens Inc. salvou a HLS da falência. Stephens tinha sede em Little Rock, Arkansas, então alguns ativistas foram para lá para se mobilizarem. Em Abril, 14 beagles foram libertos do novo laboratório da HLS em New Jersey; no fim de Outubro, centenas de pessoas se reuniram em Little Rock para um fim de semana de manifestações na casa de Warren Stephen e escritórios da Stephen Inc. Na primavera seguinte, Stephens desligou a HLS, quebrando um contrato de cinco anos, após apenas um ano.

A SHAC se espalhou rapidamente pelos EUA, como uma campanha de tamanho e efetividade sem precedentes. Em parte, graças a seu financiamento superior [2], suas peças de propaganda eram brilhantes e empolgantes, como vídeos de divulgação que intercalavam imagens de violência contra animais com ações inspiradoras com uma trilha sonora de tecno acelerada. A campanha oferecia a seus participantes uma vasta gama de opções, incluindo desobediência civil, ligações, trotes, e rodas de conversa. Em contraste com os melhores dias do movimento antiglobalização, os alvos estavam espalhados, e disponíveis, por todo o mapa dos Estados Unidos. Os objetivos imediatos de forçar investidores específicos e parceiros comerciais de se desligarem da HLS, geralmente eram facilmente atingidos, dando uma sensação de gratificação imediata para os participantes.

Enquanto um indivíduo poderia se sentir insignificante em um protesto anti guerra com milhares de pessoas, se ela fosse uma das dezenas que participaram de um protesto na casa de um investidor que desistiu de apoiar a HLS, ele poderia sentir que conquistou algo concreto. A campanha SHAC ofereceu o tipo de conflito contínuo de baixa intensidade através do qual as pessoas puderam ser radicalizadas e desenvolverem um senso de poder coletivo. Fazer táticas de blacblock com seus amigos, escapar da polícia depois das manifestações, ouvir falas inspiradoras juntos, invadir escritórios gritando com megafones, ler sobre as atividades de outros ativistas na internet, a sensação de estar no lado vencedor de um esforço efetivo de libertação – tudo isso contribuiu para o sentimento de que a campanha SHAC era imparável.

[2] Diferente de muitos movimentos sociais, o movimento pelos direitos dos animais é apoiado por doadores ricos, e nós podemos assumir isso pois alguns deles doaram para a SHAC.

Ação

“A Carr Securities começou a fazer o marketing das ações Huntington Life Sciences. No dia seguinte, o Iate Clube Manhasset Bay, o qual certos executivos da Carr fazem parte, foi vandalizado por ativistas pelo direitos dos animais. Os extremistas enviaram uma nota ao site da SHAC assumindo a responsabilidade, e três dias depois do incidente a Carr encerrou seus negócios com a HLS.”
– John Lewis, Diretor assistente de Monitoramento do FBI do assim chamado “Eco-terrorismo”.

Ação direta contra os parceiros da HLS tomou inúmeras formas, ocasionalmente escalando para incêndios criminosos e violência. Em Fevereiro de 2000, Brian Cass, o diretor da HLS foi hospitalizado após levar uma surra de cabo de machado em sua casa. Em Julho daquele ano, os Piratas Pela Libertação Animal afundaram o iate de um executivo do Banco de Nova York, e o banco logo cortou seus laços com o laboratório. Um ano depois, bombas de fumaça foram lançadas contra os escritórios da Marsh Corp em Seattle, causando a evacuação do arranha-céu e o fim de sua relação com a HLS. No Outono de 2003, um dispositivo incendiário foi deixado nas empresas Chiron e Shaklee, por estarem associadas a HLS. Em 2005, a corretora Canaccord Capital, com sede em Vancouver, anunciou que estava encerrando sua parceria com a Phytopharm PLC, em resposta a uma ataque incendiário ao carro de um executivo da Canaccord, Phytopharm vinha fazendo negócios com HLS. Tudo isso acontecendo em um cenário de constantes ações de menor escala.

Em Dezembro de 2006, HLS foi impedida de ser listada na Bolsa de Valores de Nova York, algo sem precedentes que resultou em uma propaganda de página inteira no The New York Times, mostrando um caricatura de um ativista, de jaqueta de couro e balaclava, declarando “Eu controlo Wall Street”[3]. Em 2007, oito empresas cortaram relações com a HLS, incluindo seus dois maiores investidores, AXA e Wachovia, após protestos na casa de acionistas e visitas da ALF na casa de executivos. Em 2018, dispositivos incendiários foram deixados de baixo de caminhões da Staples e lojas da empresa foram vandalizadas. Ao longo da campanha, cerca de 250 empresas desistiram da HLS, incluindo o Citibank, a maior instituição financeira do mundo; HSBC, o maior banco do mundo; Marsh, a maior seguradora do mundo; e o Bank of America.


Mantendo o Ritmo

É interessante comparar a trajetória da campanha SHAC com o que chamamos de movimento antiglobalização. Os dois começaram no Reino Unido antes de engrenar nos EUA. A SHAC foi fundada na Inglaterra no mesmo mês dos protestos históricos do WTO em Seattle; começou a ganhar aderência na América do Norte no rastro do fim das mobilizações anti-globalização e manteve impulso após a ala antiglobalização do movimento nos EUA colapsar, nos dias que seguiram o 11 de Setembro de 2001.

Como a campanha SHAC foi capaz de manter seu ritmo enquanto praticamente todas as outras campanhas baseadas em ação direta naufragaram ou foram cooptadas por liberais ? Podemos encontrar lições sobre como lidar com crises, baseadas nesse exemplo ?

Ativistas da SHAC se diferenciavam de participantes da maioria dos outros movimentos sociais por não considerarem que precisavam de uma boa imagem na mídia, nem entediam uma cobertura negativa como algo ruim. Seus objetivos eram aterrorizar corporações até desistirem de fazer negócios com a HLS, não converter outras pessoas para a causa da libertação animal. Quanto mais destemidos e malucos eles pareciam ser nos jornais, mais fácil seria intimidar potenciais investidores e parceiros de negócio. Em outros círculos, ativistas temiam que o pânico da Guerra ao Terror facilitasse que o governo os isolasse, se associados ao terrorismo; para SHAC, quanto mais perigosos e extremos parecessem, melhor.

No fim, tudo isso voltou para os assombrar, quando os organizadores mais influentes foram levados a julgamento e a promotoria facilmente os retratou como representantes de uma rede clandestina de terroristas. Nesse sentido, a maior potência da campanha SHAC – a relação entre organização pública e secreta, a temível reputação – também se mostrou como seu calcanhar de Aquiles. A lição parece ser que essa abordagem pode ser efetiva em uma escala pequena, desde que os organizadores não provoquem confrontos com forças muito mais poderosas que eles mesmos. Com relação a cobertura midiática, talvez nos seja instrutivo observar como os organizadores da SHAC abordavam essas questões. Os porta-vozes da SHAC nunca deixaram de enfatizar a necessidade da ação direta para a libertação animal, mesmo quando o resto da nação estava obcecada com a Al Qaeda; a mobilização histórica em Little Rock aconteceu apenas um mês e meio após os ataques ao World Trade Center e ao Pentágono. Independente do que aconteceu em Nova York ou no Afeganistão, eles enfatizaram que lá, naquele exato momento, haviam animais sofrendo, que poderiam ser poupados, caso as pessoas tomassem umas poucas atitudes concretas. Se organizadores de outros círculos fossem capazes de manter esse foco e urgência, a história poderia ter tomado outros rumos no começo desta década.

É possível também, que com outras formas de organização estando em baixa, a SHAC tenha ganho mais participantes do que em um cenário onde outras campanhas de ação direta tivessem mantido seu ritmo. Em contraste com as massivas ações simbólicas do movimento anti guerra, a campanha SHAC era um caldeirão de experimentações, onde novas táticas eram constantemente testadas. Para entusiastas da ação direta preocupados em maximizar esforços – ou apenas cansados de serem tratados como mais um número na estimativa de participantes da multidão, isso deve ter sido sedutor.

Seja qual for o motivo, a SHAC foi capaz de manter seu fôlego até que a repressão federal finalmente começou a ser um peso. Diferente de muitas campanhas, que desapareceram por atrito ou cooptação, foi necessário todo o maquinário do estado para conter seu avanço.

Repressão

Todas as conquistas da SHAC vieram com um preço. Quanto mais empresas abandonavam seus negócios com a HLS, mais a campanha chamava atenção das agências de repressão e de think tanks da direita. Os organizadores da SHAC, no geral, não eram tipos facilmente intimidáveis; era comum que quem participasse da campanha fizesse piadas sobre todos as acusações haviam acumulado e quão pouco isso importava, pois se fossem processados, não teriam dinheiro algum para ser confiscado.

Os governos dos Estados Unidos e do Reino Unido elevaram o risco constantemente ao longo dos anos, botando ativistas sob vigilância, atingindo-os com processos, impedindo suas tentativas de levantarem fundos, intimidando organizações como o PETA a não se comunicar com eles, passando novas leis contra manifestações em bairros residenciais, e derrubando seus websites. Nos EUA, isso culminou no julgamento dos chamados “Sete da SHAC”: seis organizadores e a própria organização SHAC USA. Em 26 de Maio de 2004, Lauren Gazzola, Jake Conroy, Josh Harper, Kevin Kjonaas, Andrew Stepanian, e Darius Fullmer foram acusados de vários crimes federais, por seus supostos papéis na campanha. Times de agentes do FBI, com armaduras de combate, invadiram as casas dos acusados nas primeiras horas da manhã, apontando armas e ameaçando a eles e seus animais de estimação, algemando seus familiares. Segundo os documentos do FBI, a investigação que levou as prisões, foi a maior de 2003; as gravações das ligações interceptadas superavam em 5 para 1, o volume do segundo caso mais extenso.

Os acusados foram todos indiciados por violar o Animal Enterprise Protection Act, uma lei controversa que pretendia punir qualquer um que impedisse uma empresa de lucrar com a exploração animal; alguns foram acusados de violar direitos de privacidade e outras contravenções. Os acusados não foram condenados de participar pessoalmente de nenhuma atividade de ameaça; o governo baseou seu caso na ideia que eles deveriam ser responsabilizados por todas as ações ilegais que aconteceram para avançar a campanha SHAC, independente de seu envolvimento. Eles foram julgados culpados em 2 de Março de 2006, sentenciados a prisão com penas variando de um à seis anos, e foram obrigados a pagar quantias absurdas de dinheiro a HLS.

O julgamento dos 7 da SHAC nitidamente pretendia criar um precedente para ser usado contra quem organizasse campanhas públicas que envolvessem ações ilegais; sua repercussão foi sentida até mesmo na Inglaterra. Em 2005, o governo britânico passou o “Serious Organized Crimeand Police Act” criado especialmente pra proteger empresas que pesquisam em animais. Em 1 de Maio de 2007, após uma série de buscas envolvendo 700 policiais na Inglaterra, Holanda e Bélgica, 32 pessoas ligadas a SHAC foram presas, incluindo Heather Nicholson e Greg and Natasha Avery, alguns dos fundadores da SHAC no Reino Unido. Em Janeiro de 2009, sete deles foram sentenciados a prisão, com penas variando de quatro a onze anos de prisão.

O Futuro da SHAC

Apesar dos contratempos e sérios desafios que encontra nos Estados Unidos, a campanha SHAC continua até hoje. Algumas organizações regionais permanecem ativas, e ações autônomas continuam acontecendo, mas não existe organização em termos nacionais, não existem mais newsletters, nem sites confiáveis para publicizar alvos e reportar ações. Consequentemente existem menos alvos estratégicos e eventos nacionais, o que leva a um menor alcance e dificulta a criação de redes. O ponto positivo é que essa configuração torna mais difícil para as empresas saberem quem precisam intimar judicialmente – mas esse é um ponto positivo bastante limitado.

Esse declínio pode ser atribuído de maneira geral a repressão do governo e de maneira mais específica ao julgamento dos Sete da SHAC. O medo de repercursões legais aumentou ao mesmo tempo em que os principais organizadores foram tirados de ação. Com novas leis locais proibindo piquetes em residências, e o Animal Enterprise Terrorism Act de 2016 tornando ações contra alvos terciários interestaduais ilegais, muitas táticas que antes envolviam baixos riscos hoje não são mais viáveis.

Agora que formas mais públicas de organização estão sendo punidas de maneira mais agressiva, parece possível que a próxima geração de ativistas pela libertação animal irão focar mais em táticas clandestinas. Uma das características mais fortes da campanha SHAC era a combinação de abordagens públicas e clandestinas, então essa não é necessariamente uma boa notícia para o movimento.

É bastante surpreendente que a HLS ainda exista; meia década atrás, organizadores da SHAC deviam estar apostando em já ter vencido a esse ponto. Quando a Stephens Inc. retirou seu investimento, seus empréstimos eram tudo o que mantiam a HLS em pé; foi somente mais uma intervenção do governo britânico que permitiu a HLS negociar um refinanciamento e continuar. Essencialmente, a SHAC venceu, mas teve sua vitória roubada. A mesma situação aconteceu quando a SHAC forçou a Marsh Inc. a retirar sua participação, e HLS foi posta na situação de talvez ter de operar sem os seguros obrigados por lei. Outra vez, o governo britânico interviu, e a HLS obeteve uma cobertura sem precedentes pelo Departamento de Comércio e Indústria. Sem a proteção desse bastião do poder, HLS já teria desaparecido há muito tempo – mas é precisamente pra isso que governos existem: para proteger corporações e preservar a tranquilidade do funcionamento do sistema capitalista. Talvez tenha sido inocente acreditar que os governos dos EUA e da Inglaterra permitiriam que mesmo a mais feroz das campanhas de libertação animal poderia encerrar os negócios de uma empresa influente. Não é possível lutar como se não houvesse manhã indefinidamente, e as reptidas vezes que a HLS voltou dos mortos deve ter sido o suficiente para enlouquecer os organizadores mais antigos da SHAC, que deram tudo de si várias vezes no que sempre pareciar ser o golpe final. Os participantes não tem acordo sobre quão significante foi o fator da exaustão, mas seria tolice desconsidera-lo. A campanha SHAC tem sido orientada como ativismo em tempo integral desde o começo, a mentalidade sendo, como os funcionários da HLS trabalham todos os dias, seus oponentes deveriam trabalhar no m´pinimo com o mesmo afinco. Artigos como “Rotina de Exercícios do SHACtivista” indicam uma abordagem com bastante pressão, que provavelmente se correlaciona com o alto nível de exaustão. Por mais difícil que seja, encontrar diferença entre os efeitos da exaustão do medo da repressão, muitos ativistas se afastaram da SHAC não voltaram a se aproximar de outras campanhas. A SHAC continua ativa no continente europeu e na America Latina, e incansável na Inglaterra. A campanha britânica da SHAC talvez ofereça um melhor modelo de como lidar com a repressão federal; parece que os ativistas britânicos já estavam preparados para isso, com pessoaal pronto para assumir os postos de organizadores centrais, e mais abertos para o envolvimento de novas pessoas. Mas a Inglaterra é mais densamente populada que boa parte dos Estados Unidos e tem uma história mais rica de luta pelo direito dos animais , então é injusto comparar tão de perto as duas campanhas.

A SHAC um dia vai conseguir fazer a HLS fechar as portas definitivamente ? É possível, apesar de que parece menos provável do que parecia alguns anos atrás. Alguns ainda acreditam que o mais importante é fechar a HLS custe o que custar, para obter uma vitória que vai inspirar ativistas e aterrorizar executivos pro décadas. Outros pensam que, a HLS fechando ou não, a SHAC serviu seu propósito, demonstrando a força e as limitações de um novo modelo de oraganização anticapitalista.


Características do Modelo SHAC

Quando as pessoas pensam na SHAC, elas pensam em protestos na frente da casas de empregados e investidos; alguns anarquistas não se referem nada além disso quando se referem ao “modelo SHAC”. Mas manifestações na frente das casas são meramente parte do que permitiu a SHAC aterrorizar a HLS. Para compreender o que fez a campanha ser efetiva, nós precisamos olhar para todas as suas características essenciais juntas.

• Alvos secundários e terciários: O objetivo da campanha SHAC era negar a HLS sua estrutura de apoio. Assim como um organismo vivo depende de todo um ecossistema para recursos e relações que o mantém vivo, uma empresa não consegue funcionar sem investidores e pareceiros de negócios. Nesses ternos, mais do que em qualquer boicote, destruição de patrimônio, ou campanha pública, a SHAC confrontou a HLS da maneira mais ameaçadora possível para uma empresa. A Starbucks poderia pagar facilmente dez mil vezes o prejuízo das vidraças quebradas pelos blackblocs durante os protestos de Seattle, mas seria diferente se ninguém repusesse aqueles vidros, ou se os vidros quebrados fossem das casas dos investidores, fazendo com que ninguém investisse na empresa, essa seria outra história. Os organizadores da SHAC aprenderam as maquinações internas da economia capitalista, assim atacavam de modo mais estratégico.

Alvos secundário e terciários funcionam pois os alvos não tem um interesse tão firme em continuar seu envolvimento com o alvo primário. Existem outros lugares para onde eles podem levar seus serviços, e não há nada que os impeça. Esse é um aspecto vital para o modelo SHAC. Se uma empresa está sendo pressionada, ela irá lutar até a morte, e nada além da força bruta que cada parte é capaz de exercer sobre a outra fará diferença; o que não tende a ser vantajoso para os ativistas, já que empresas podem acionar a polícia e o governo. É por isso, que exceto pelo incidente com os cabos de machado, tão poucos esforços na campanha SHAC foram direcionados a HLS em si. Em algum lugar entre o alvo primário e as empresas associadas que provém sua estrutura de apoio, parece haver um nervo exposto, onde a ação se torna mais efetiva. Pode soar estranho agir contra alvos terciários que não tem conexão direta com os alvos primários, mas incontáveis consumidores da HLS cortaram relações após um de seus clientes sofrer algum constrangimento.


• Relacionamento de apoio entre ações públicas e clandestinas: Mais do que qualquer outra campanha de ação direta na história recente, a campanha SHAC alcançou uma simbiose perfeita entre organização públicas e ações clandestinas. Para esse fim, a campanha era caracterizada por um uso bastante sofisticado da tecnologia e networking moderno. Os sites da SHAC disseminavam informações sobre alvos e ofereciuam um fórum para relatos de ações para aumentar a moral e as expectativas, permitindo que qualquer um simpático aos objetivos da campanha pudesse contribuir, sem chamar atenção para si.

• Diversidade de táticas: Ao invés de botar um tipo de tática contra a outra, a SHAC integrou todas as táticas possíveis em uma campanha, onde cada abordagem complementava a outra. Isso significava que seus participantes podiam agir dentro de uma gama ilimitada de opções, o que manteve a campanha acessível para um público amplo e preveniu conflitos desnecessários.


• Alvos concretos, motivações concretas: O fato de que haviam animais específicos sofrendo, cujas vidas podiam ser salvas por ação direta específica, tornou essas questões concretas e deu a campanha um senso de urgência que se traduziu em uma vontade de alguns dos participantes de arrancarem a si mesmos de suas zonas de conforto. Do mesmo modo, a cada conjuntura na campanha SHAC, haviam objetivos intermediários que podiam facilmente serem alcançados, assim a tarefa monumental de enfraquecer toda uma empresa nunca pareceu algo grandioso de mais. Isso contrasta drasticamente com o modo como o impulso de certos círculos do anarquismo verde morreu após a virada do século, quando os objetivos e alvos se tornaram muito vastos e abstratos. Até então era fácil para indivíduos motivarem a si mesmos a defender árvores e áreas naturais específicas, mas uma vez que o objetivo de alguns participantes se tornou “destruir a civilização” e qualquer coisa menorr que isso fosse mero reformismo, se tornou impossível construir qualquer ação significativa.

Vantagens do Modelo SHAC

Quando o modelo criado pela SHAC é aplicado corretamente, suas vantagens são óbvias. Ela atinge corporações onde elas são mais vulneráveis: empresas não fazem o que fazem por terem compromissos éticos ou para manter certa imagem na opinião pública, seu único objetivo é a busca por lucro, e o modelo SHAC foca exclusivamente em trazer prejuízos a empresa. Se tratando da construção e manutenção de uma campanha de ação direta a longo prazo, o modelo SHAC oferece direção e motivação aos participantes, apresentando um modelo para ações menos abstratas e mais concretas. O modelo SHAC contorna o conflito sobre táticas, oferecendo a oportunidade para ativistas com diferentes capacidades e níveis de conforto trabalharem juntos. Ao estabelecer uma ampla gama de alvos, isso dá aos ativistas a oportunidade de escolher a hora, o lugar e o caráter de suas ações, ao invés de estarem constantemente reagindo ao seus inimigos. Acima de tudo, o modelo SHAC é eficiente: em nenhum momento a SHAC USA teve mais do que umas poucas centenas de participantes ativos.

Em contraste com a maiorida das estratégias de organização, o modelo SHAC tem uma abordagem ofensiva. Ela oferece um meio de atacar e derrotar projetos capitalistas bem estabelecidos – tomar iniciativa amais do que apenas responder ao avanlo do poder das empresas. A SHAC não surgiu motivada a impedir a construção de um novo laboratório de testes de animais ou a aprovação de algumas leis, mas para derrotar e destruir uma empresa de testes em animais que já existia há décadas. O modelo SHAC pede e incentiva uma cultura que não apenas celebra a açãod ireta mas que constantemenete age através dela, encorajando os participantes a irem além de seus limites. O que se contrasta drasticamente com os círculos auto intitulados insurrecionários, onde anarquistas façlam muito sobre se rebelar e resistência sem entrar no confronto diário com os poderes que nos oprimem. Ativistas Antiglobalização em Chicago as vezes pediam aos organizadores da SHAC pra puxarem palavras de ordem em seus protestos, por conta da fama que tinham de serem energéticos e confiantes: quem afiou seus dentes na campanha SHAC, se não se afataram totalmente das atividades de ação direta, são euquipados para serem efetivos em um espectro amplo de contextos. Uma vaantagem mais discreta do modelo SHAC é que ele deixa nítido as tenções de classe que geralmente estão abaixo do radar nos EUA. Ativistas de classe média baixa – e de contextos tabalhadores podem considerar confortante usar o pixo como maneira de desafiar executivos ricos em seu próprio território. Isso também expõe os ativistas de uma causa só a suas interconecções com a classe dominante. AO visitar a casa de executivos, é possível descobrir que todas empresas farmaceuticas e de investimentos estão conectadas: todos possuem ações das companhias uns dos outros, eles sentam nas mesmas mesas de diretoria, e vivem e suas idênticas mansões suburbanas em condomínios de muros altos.


Por fim, o modelo SHAC tomou vantagem de oportunidades oferecidas por eventos e comunidaes maiores. Os protestos na frente das casas geralmente aconteciam após uma assembleia ou sjow; o imenso número de potenciais alvos significava que sempre havia algum a não muito distante.

Por muitos anos, protestos da SHAC aconteciam durante a National Conference on Organized Resistance em Washington, DC, e também aconteceram após os protestos anti-biotech na Philadelphia e Chicago.

Algumas vezes essa tática causou conflitos com outros organizadores, não é preciso mais do que duas dúzias de pessoas para fazer um protesto efetivo em uma zona domociliar, então sempre foi muito fácil criar a situação para uma.

A SHAC em si, tende a criar e repercurtir uma subcultura própria, compelta com pontos de referência internis e rituais. Em assembleias e eventos maiores, ativistas comparavam anotações sobre investidores, campanhas locais, e problemas judiciais. Cenas musicais simpáticas ajudaram a financiar organizações e a trazer sangue novo para a campanha. Seria difícil imaginar a campanha SHAC nos EUA sem a cena do hardcore das últimas duas décadas, que constantemente serviu como base social para os militantes dos direitos dos animais. Certamente existem pontos negativos em aproximar tanto uma campanha a uma subcultura da juventude, mas é melhor atrair participantes e fômego de uma comunidade do que de nenhuma.

Falsas Polêmicas

Alguns anarquistas, impensadamente acusaram a SHAC de reformismo. Isso é um absurdo: o objetivo da SHAC não é de mudar a maneira como a HLS conduz seus negócios, mas acabar totalmente com a empresa. É mais preciso descrever a SHAC como uma campanha abolicionista: sendo incapaz de acabar com a exploração animal de um só golpem ela busca alcançar o passo mais ambicioso e plausível dentro deste fim. De forma similar, alguns críticos entediados ridicularizaram os esforços de libertação dos animais com o argumento de que eles seriam “ativistas”, implicando que isso seria algo inerentemente ruim. Os que adotam essa possição deveriam dar uma passo adiante e assumir que eles não se comovem com a opressão de outras criaturas vivas e não enchergam valor em tentativas de encerrar isso – o que quer dizer que, eles dificilmente sejam anarquistas.


Desvatagens e Limites


Falsas acusações a parte, o modelo SHAC têm limitações reais, que merecem serem examinadas.


Primeiro, existem alguns pré requisitos sem os quais ela irá falhar. Por exemplo, o modelo SHAC não pode ser bem sucedida fora de um contexto onde a ação direta seja aplicada regularmente. Todo pensamento estratégico do mundo é inútil se ninguém está de fato disposto a agir. Nos círculos dos militantes pelo direitos dos animais, as questões em jogo eram entendidas como concretas e urgentes o suficiente para participantes serem motivados a assumir riscos regularmente; sem essa motivação, a campanha SHAC não teria saído do chão. Do mesmo modo, o modelo SHAC não tem poder contra alvos que não dependam de alvos secundários e terciários, ou que tenha um suprimento infinito deles para escolher. Acima de tudo, os alvos secundários e terciários devem ter outro lugar para onde levar seus negócios – o modelo SHAC depende do resto do mercado capitalista oferecendo melhores opções. Nesse sentido, embora não seja reformista, ela também não oferece uma estratégia para combater frontalmente o capitalismo.

Em segundo lugar, por mais eficazes que sejam em termos puramente econômicos, os alvos secundários e terciários põem o local do confronto longe da causa pela qual os participantes estão lutando. Falando e maneira geral, quanto mais abstrato o objeto da campanha, pior para a moral. Muito vitalidade das lutas por eco-defesa nos anos 80 e 90 vem da conexão imediata, visceral, que os defensores da floresta experenciaram com a terra que estavam ocupando; quando o ativismo pelo meio ambiente começa a se mover para terrenos mais urbanos uma década atrás, ele perdeu parte de seu impeto. Talvez seja específico para a campanha SHAC que os participantes sejam capazes de mater sua revolta e audácia mesmo tão longe do objeto de sua preocupação; é arriscado assumir que isso sempre acontecerá em outros contextos.

Exceto por esses desafios, o modelo SHAC talvez seja inefetivojustamente por sua efetividade. É razoável mirar em fechar empresas poderosas, ou o governa sempre irá interceder ? É possível que por se apresentar como uma ameaça para as empresas, em termos econômicos, que o modelo SHAC compre uma briga que não pode vencer. Uma vez que o governo tenha se envolvido em um conflito, é preciso mais que uma rede de militantes para vencer – é necessário todo um movimento social de larga escala, e a abordagem da SHAC sozinha não é capaz de dar origem a algo assim. Nesse caso, a maior força do modelo SHAC é também sua fraqueza fatal.

O tempo dirá se a HLS foi um alvo muito ambicioso; a empresa ainda pode vir a colapsar. Mesmo assim, provavelmente seria inteligente que os próximos a experimentar com o modelo, escolher objetivos menores, e não algo ainda mais ambicioso, já que a campanha SHAC em si, ainda não foi bem sucedida. Talvez um terreno inexplorado aguarde entre fechar lojas de peles específias e tentar fechar a maior empresa de testes em animais da Europa. Isso não quer dizer que o modelo SHAC é inútil caso não resulte no fechamento de seu alvo. As vezes é válido lutar e perdem uma batalha para desencorajar um oponente de começar outra batalha; em outros momentos, mesmo ao perder, é possível ganhar experiência e aliados valiosos. Ironicamente o modelo SHAC talvez seja mais efetivo em recrutar pessoas para organizar ação direta, do que para seu suposto objetivo – precisamente porque, ao contornar o recrutamento e focar em outros objetivos, isso atrai participantes que são sérios e comprometidos.




Mas se o objetivo for trazer mais pessoas a organização de ação direta ao invés de simplesmente fechar uma única empresa, existem desafios relevanetes a serem considerados – por exemplo o alto nível de stress e a propensão ao burnout. Nesse sentido, não é necessariamente uma vantagem que o modelo SHAC ensine ativistas a pensar dentro da mesma lógica que conomistas capitalistas – eficiência, economia, cadeia de comando – ao invés de priorizar as habilidades sociais necessárias para contruir comunidades de resistência a longo prazo.




Assim como, ao focar em alvos secundários e terciários, o modelo SHAC enfatiza e recompensa uma atitude agressiva que é menos vantajosa em em outras situações. Quais são os efeitos psicológicos de longo prazo nos participantes que passaram metade de uma década ou mais, gritando em um megafone na frente da casa de funcionários ? Que tipo de pessoas são atraídas para uma campanha que consiste primariamente em tornar a vida de outras pessoas um pesadelo ? Não podemos deixar de apontar que alguns anarquistas relataram interações frustrantes com organizadores da SHAC.

Considerando o modelo de uma pespectiva anarquista – com qual intensidade a abordagem da SHAC tende a consolidar ou contestar hierarquias ? A segurança necessária para ações diretas clandestinas podem incitar um tribalismo que se intensifica conforme aumente a repressão, impedindo assim a campanha de atrair mais participação justamente quando for mais necessário. Hierarquias informais são um problema em todos tipos de organizaçõesm aqueles que fazem pesquisas geralmente tem uma influência desproporcional sobre a direção da campanha e acabam sendo responsáveis pode tomadas de decisões que tem efeitos no logo prazo.

É possível argumentar que o foco numa só questão e a natureza focada em objetivos práticos da campanha SHAC não age contra outra hierarquia que não a opressão dos animais. Não é segredo que grupos organizados dentro da SHAC foram destruídos por conflitos sobre dinâmicas de gênero e nem todos participantes foram responsabilizados por seus comportamentos. Em uma campanha que enfatiza a sobretudo vitória, isso não é surpreendente – se vencer é o mais importante, é fácil abafar conflitos internos, especialmente com a adição do stress da repressão federal. Inevitavelmente, as pessoas que tiveram más experiências afastam-se da campanha, levando junto as críticas qye outros deveriam ouvir.

Essas prioridades questionáveis também se manifestaram em algumas táticas TASTELESS. Em um caso, um alvo que estava lutando para escapar do alcolismo recebeu uma lata de cerveja com um NASTY bilhete.; em outro caso a calcinha de uma mulher foi roubada e supostamente posta a venda. Utilizar a assimetria de poder da sociedade patriarcal para atingir aliados de alvos que contribuem para a opresssão animal dificilmente serve como exemplo de luta contra todas as dominações.

Existem outras questões éticas sobre utilizar alvs secundários e terciários. É aceitável arriscar aterrorizar ou machucar secretárias, crianças, e outras parte que não estão diretamente envolvidas ? O que separa anarquistas de governos e outros terroristas, se não a recusa de aceitar dano colateral ?

Em essência, o modelo SHAC é uma modelo para uma campanha de coerção, para ser usada em situações em que não há possibilidade de outra forma de resolução de conflito. Isso não entra em conflito com valores anarquistas – quando um opressor se recusa a se responsabilizar por suas ações, é necessário obriga-lo a parar, e isso se estende para aqueles que o auxiliam e incentivam. Mas envolver pessoas que não estão diretamente envolvidas na opressão, é uma área cinza. Quando um organizador expõe um alvo, não há como saber que tipo de ações vão ser tomadas. Talvez o valor de encerrar a opressão animal pese mais que esses ricos e custos, mas anarquistas não deveriam ficar muito confortáveis com esse tipo de racionalização.

Outras Aplicações do Modelo SHAC

Muito têm se falado de aplicar o modelo SHAC em outros contextos, mas poucos desses esforços produziram algo comparável com a campanha SHAC. São necessárias certas reflexões. É válido apontar que parte do hype sobre as possibilidades de aplicação do moelo SHAC vem direto de declarações da HLS, e por isso deveriam ser tomadas com ceticismo. A HLS não está interessada em promover novos métodos de ação direta, mas sim em criar medo o suficiente para que outros membros da classe dominante venham ajuda-los; assim, quando eles dizem que as táticas da SHAC podem ser usadas efetivamente contra qualquer alvo, isso não necessariamente é real. O mesmo vale para análises sensacionalistas de organizações como Stratfor, cujo objetivo primário para ser aterrorizar o público e faze-lo sentir necessidade de consumir a “inteligência” que a empresa vende.


É possível que por conta da campanha SHAC ter se mantido ativa enquanto outras formas de organização se desmobilizaram, que ela tenha exercido uma influência desproporcional na imaginação dos anarquistas, de tal maneira que muitos tendem a imitar o modelo organizacional do modelo SHAC mesmo quando ele não é estrategicamente efetivo. Falhas podem ser tão instrutivas quanto sucessos; infelizmente, como elas são esquecidas mais rapidamente, tendem a ser repetidas de novo e de novo. Por isso, qualquer consideração sobre o modelo SHAC deve ter em mente o exemplo do Root Force.

Root Force surge dos círculos do Earth First! Anos atrás, com a intenção de promover uma campanha no estilo SHAC, mirando a infraestrutura do capitalismo global – um objetivo exponencialmente mais ambicioso que fechar a HLS. Os organizadores pesquisaram as empresas envolvidas em projetos de infraestrutura sensíveis como rodovias transnacionais e usinas elétricas. Foi criado um site para divulgar essas informações e quaisquer ações que fossem realizadas; eventos foram realizados por todo o país para divulgar o projeto. Parecia que todas as peças estavam em seus devidos lugares, e mesmo assim, nada aconteceu.

No começo de 2008, Root Force publicou uma declaração sob o título de “Uma Estratégia Revisada” na qual reconhecia que seus esforços haviam falhado em produzir uma campanha de ação direta efetiva e descreveu suas dificuldaes de tentar inspirar ações contra projetos de infraestrutura localizados a uma distância tão grande que parecem totalmente abstratos.

Root Force não entendeu como campanhas de ação direta ganham fôlego. Tanto a ação quanto a inação, são contagiosos. Se algumas pessoas estão comprometidas o suficientecom uma causa a ponto de arriscarem sua liberdade, outros podem vir a fazer o mesmo; ninguém deseja se isolar, uma estratégia razoável sozinha não é o suficiente para inspirar ações. Uma ação direta séria, devidamente bem publicizado pela Root Force teria valido cem eventos de divulgação.

A campanha da Root Force teve outras falhas. Se o objetivo era simplesmente dar aos participantes algo para fazer, a estratégia foi tão boa quanto qualquer outra; mas se eles tinham esperanças de impedir a construção de qualquer rodovia ou usinas de energia essenciais para a expansão do mercado capitalista, eles teriam de mobilizar muito mais força que a campanha SHAC. Se os alvos que escolheram realmente fossem de importância crítica para os poderosos, o governo teria mobilizado todos seus recursos para os defender. Exageiro na escala é o erro número um dos movimentos de resistência: ao invés de optar por objetivos alcançáveis e lentamente construir através de suas vitórias, os organizadores cavam a própria derrota ao pular diretamente para um embate final com o capitalismo global. Nós podemos lutar e vencer batalhas ambiciosas, mas pra isso precisamos reconhecer de forma realista nossas capacidades.

Outras apordagens inspiradas pela SHAC se caracterizaram pela ênfase nos protestos na frente da casa de alvos. Por exemplo, nos últimos anos, manifestantes anti-FMI e o World Bank têm experimentado com protestos na frente da casa de executivos e financiadores. Em 2006, enquanto Paul Worfowitz era presidente do World Bank, houve uma série de manifestações na casa de sua namorada; eventualmente ela se mudou. Isso não parece ter impactado o FMI no mesmo nível que levantes antiglobalização ao redor do mundo. Sarcasmo à parte, há pouco a se ganhar ao assediar pessoas como Wolfowitz: diferente dos alvos terciários que a SHAC mirava, eles não vão simplesmente levar seus negócios pra outro lugar.

De maneira similar, durante a Convenção Republicana de 2004, alguns organizadores chamaram por protestos com foco em assediar delegados. O risco dessa abordagem é que ela pode retratar o conflito como uma richa mesquinha entre os manifestantes e as autoridades, ao invés de um movimento social que é capaz de atrair participação massiva. Assim como Wolfowitz, delegados republicanos dificilçmente vão se aposentar porque meia dúzia de manifestantes gritou com eles – e mesmo se alguns se aposentassem, eles seriam substituídos instantâneamente. Uma proposta para os protestos na RNC em 2008 envolvia ativistas mirando empresas que prestavam serviços a convenção. Mirar empresas prestando serviços talvez tivesse ajudado a dar fôlego ao que viria, mas é pouco provável que essas ações fossem capazes de privar uma organização tão podersa como o Partido Republicano, dos recursos necessários. O mesmo vale para propostas de mirar nas empreiteiras do ramo de armamentos, servindo o exército dos EUA – pode ser algo excitante para os manifestantes fazerem, mas ninguém deveria subestimar o que seria necessário para fazer uma corporação como a Boeing cortar laços com os militares dos EUA.

Alguns enchergam a Rising Tide e a Rainforest Action Network como campanhas contra o bank of America como parentes da capanha SHAC; essas usaram alvos secundários, embora elas sejam descendentes diretas de campanhas ambientais que a precedem. No fim de 2008, num contexto de caos econômico, Bank of America declarou que estaria deixando de financiar empresas que se envolviam majoritariamente mineração no cume de montanhas. Por mais insincera que essa declaração seja, ela indica que a campanha obrigou o BOA a tomar uma inciativa. Ambientalistas em Indiana obtiveram menos sucesso tentando parar a construção da rodovia I-69 via uma combinação protestos em residências e escritórios, e táticas de ocupação de floresta. Em “A Revised Strategy”, Root Force cita a I-69 como um projeto de infraestrutura essencial; seria interessante ver como o estado responderia caso a luta contra a I-69 tivesse ganho força.

Com tudo isso, não queremos dizer que o modelo SHAC não pode ser aplicado efetivamente, mas enfatizar que ativistas devem ser intencionais e estratégicos sobre onde e como fazê-lo. É provavel que existam situações em que o modelo pode alcançar ainda mais do que foi capaz com a SHAC; sem dúvidas existem outros contextos em que ele pode ser contraproducente.

Repetimos, a campanha SHAC nos EUA envolveu apenas umas poucas centenas de participantes; uns poucos milhares possivelmente poderiam enfrentar um adversário maior. Mesmo forçar o governo a resgatar uma empresa da falência, pode ser considerado uma importante vitória. Até hoje, ainda não sabemos onde serão encontradas aplicações eficazes do modelo SHAC para além da campanha onde teve origem.

CONTRA a Quarta e Quinta Revolução Industrial

Posted on 2025/05/15 - 2025/05/15 by holasoyp1x0

O texto à seguir, é de autoria do coletivo 325, até onde pude verificar, as influências ideológicas do grupo estão voltadas ao individualismo e ao insurrecionalismo, apesar de considerar essas práticas-ideias como válidas e celebrar a existência dessas pessoas e grupos, não temos (e não precisamos ter) grandes acordos com relação a como projetamos nossa luta na sociedade.

Dito isso, destaco dois pontos principais desse texto, como extremamente instigantes. Primeiro, a análise das Revoluções Industriais como processos de expropriação contra a classe trabalhadora e o papel desses eventos na desassociação do ser humano, com seu meio ambiente, meio social e atualmente, um processo de desligamento do indivíduo com seu próprio corpo.

O segundo ponto, é a capacidade de projeção de um futuro próximo, levando em conta tecnologias emergentes e tendências econômicas políticas. Como pessoas que projetam um mundo diferente, é vital que tenhamos um bom entendimento de pra onde os ventos apontam.

Publicado originalmente em inglês e espanhol em enoughisenough14.

CONTRA A Quarta e Quinta Revolução Industrial

“Uma característica da quarta revolução industrial é que ela não muda o que fazemos, muda a nós mesmos.” Klaus Schwab, excutivo e fundador do Fórum Econômico Mundial, Fórum que instalou um Centro para a Quarta Revolução Industrial em São Francisco, nos Estados Unidos.

Uma revolução industrial é um evento político, social e econômico em que a elite se apodera do que é livre – terra, natureza, talentos, relações sociais, habilidades e sonhos – e os reembala, os transformando em agentes dentro dos mecanismos de lucro e poder. Para fazer isso, eles privam a maior parte da população de autonomia, autodeterminação, autossuficiência, autoestima, relacionamentos, e liberdade.

Nós tivemos três revoluções industriais nos últimos 250 anos. No momento estamos às vésperas da quarta e quinta revolução industrial. Todas essas revoluções vieram a ser fundamentalmente baseadas na extração e devastação industrial de nosso ecossistema.

A Primeira Revolução Industrial aconteceu entre 1760 e 1970 quando água e vapor foram usados para mecanizar a produção através da invenção do motor a vapor, que também teve o efeito da “globalização” ou do deslocamento através de ferrovias. A Primeira Revolução Industrial quebrou a relação das pessoas com a natureza, avançando a era das cidades. A Segunda Revolução aconteceu entre 1870 e 1914 e trouxe o poder da eletricidade para o Ocidente, juntamente ao aço, óleo e o motor por combustão, possibilitando a produção em massa e erradicando as pequenas indústrias de artesãs. A Terceira Revolução Industrial começou nos em 1980 quando eletrônicos e tecnologia da informação automatizaram a produção e passaram a descentralizar até que a ascensão da revolução da tecnologia digital eventualmente “democratizou” o computador pessoal e a internet, um evento que ajudou a agravar a já enfraquecida relação entre a humanidade ocidental e o mundo natural, e também entre si, conforme cidadãos se tornaram parte de uma comunidade global ao invés de uma comunidade local, que tem desaparecido rapidamente. A Terceira Revolução Industrial e a insipiente Quarta Revolução tem criado solidão sistemática, isolamento, proliferação de problemas mentais e uma maior dependência do sistema: quando relações humanas e redes familiares já não podem mais ser garantias da nossa sobrevivência, somos levados a crer que a dependência nas máquinas pode.

Essas sucessivas revoluções industriais consolidaram e aprofundaram essa ruptura, não apenas com o mundo natural para boa parte da população mundial, agora urbana e dependente dos mecanismos da cultura civilizada, mas também levou a um aumento no distanciamento ainda maior entre ricos e pobres.

O objetivo da Quarta Revolução Industrial (4RI) é a convergência das tecnologias físicas, biológicas e digitais sob o propósito de uma nova visão da humanidade e do planeta. 4RI, CyberPhysical ou Indústria 4.0 envolve conectividade em massa, inteligência artificial, robótica, acesso de conhecimento via internet, armazenamento, veículos autônomos, poder de processamento massivo via 5-G, impressão 3D, nanotecnologia, biotecnologia, genética, bio-printing (manufatura de células, órgãos e corpos), expansão do tempo de vida, realidade aumentada, ciência de materiais, armazenamento de energia, computação quântica, e Internet das coisas (IoT) como em prédios smart e cidades smart, blockchain e criptomoedas. Essas são tecnologias “disruptivas”, em sentido amplo: administração, finança, logística, sociedade, ontologia humana. Ela também é implementada através do apelo da 4RI para nossa “conveniência, conforto, harmonia e prazer”. É isso que significa um mundo de “tecnologias sem fricção”, um mundo tecnificado.

Nesse mundo novo, o Covid-19 deu a tecno-elite ótimas das oportunidades: Populações globais fisicamente isoladas umas das outras, em alguns países sendo permitido um abate tácito de humanos que até então eram um fardo para um sistema que não precisava deles. Nossa dependência total da tecnologia, para a comunicação, trabalho e entretenimento, o uso dessas tecnologias para instituir vigilância massiva, e experiências de medo e mortes em escala até então inimagináveis. Esse cenário também nos revelou algumas verdades: Apesar de dois séculos de “progresso”, tudo que as elites fizeram foi proteger seus próprios empreendimentos, sistemas públicos de assistência foram destruídos; e a humanidade tem sido “desconectada” da natureza tão completamente que de fato, nós não conseguimos sustentar a nós mesmos durante uma crise, sem o sistema e que as promessas da elite – sejam políticas, econômicas ou tecnológicas – jamais serão cumpridas.

Se a 4RI é a consolidação dos meios – as novas tecnologias em si – que as elites irão tentar usar para confrontar a instabilidade resultante da desigualdade de recursos, colapso climático e a ascensão da computação e do poder pós-industrial, então, a Quinta Revolução Industrial (5RI) começa no momento em que houver aceitação massiva dessas novas tecnologias que convergem com nossos corpos, ambientes e realidades em tal grau que a máquina-mundo será sempre presente, desde a nano escala até o ponto mais distantes que os humanos atingirem no espaço.

Esse é o motivo pelo qual se você fizer qualquer pesquisa básica sobre 5RI, vai encontrar apenas capitalistas usando green-washing sobre o dito “desenvolvimento sustentável” e baboseira pró-mercado sobre uma tecno-utopia que irá “melhorar a vida de todos”. Isso é por que os tecnocratas e as elites não querem que a verdadeira natureza desses desenvolvimentos tecnológicos seja conhecida até que seja tarde de mais para se fazer algo a respeito. Progresso tecnológico, nos foi dito, é “inevitável”. A 5RI irá nos levar a mudanças conceituais tão grandes com relação a como vemos nossos corpos, tecnologias e o “mundo natural” que muitas dessas definições passarão a ter limites menos nítidos. Para “relíquias humanas” como nós, que pensam em próteses apenas como a solução de deficiências, 4RI fornece a tecnologia, e através dos desenvolvimentos da mesma, logo os resultados da 4RI serão melhor que a do membro original. 5RI não é apenas sobre estender e refinar as incursões da 4RI, é sobre vender massivamente essas ideias, alinhando o público com essas tecnologias através de propagandas que apelem para os instintos humanos mais básicos. A 5RI é a aceitação de que os órgãos robóticos-cibernéticos são superiores ao orgânico, e o desejo pelo artificial em detrimento do caos orgânico.

Enquadrado entre uma nova realidade evolutiva de artificialização total, e inteligência artificial miniaturiza, intervindo em tudo ao alcance dos especialistas, o resultado da realidade da 4IR é uma visão de uma nova Terra e de uma nova “humanidade”. Uma “Humanidade +” que vive dentro de um planeta-prisão dependente de “energia verde”, regulada e sancionada por funcionários, cientistas e tecnocratas através de métodos como I.A., bio tecnologia e nanotecnologia. Se a 4RI é o desenvolvimento e convergência dessas novas tecnologias pós-industriais, então a 5RI surge de um grau acelerado de desenvolvimento e aceitação em massa desse mesmo complexo tecno-industrial. A 5RI é caracterizada pela velocidade exponencial sem precedentes (tempo-máquina) em oposição ao linear/não-linear (tempo humano) o que significa que mesmo os designers e engenheiros sociais desse admirável mundo novo admitem que não serão capazes de controlar o resultado dessas novas tecnologias. Isso tende em direção a criação de algo ainda mais horrível que a ficcional Skynet do Exterminador do Futuro. A Singularidade Tecnológica. Ray Kurzweil descreve em The Singularirty is Near que “é difícil pensar em qualquer problema que uma super inteligência não possa resolver ou ao menos nos ajudar a resolver. Doença, pobreza, destruição ambiental, sofrimentos desnecessários de todos os tipos: essas são coisas que uma super inteligência equipada com nano tecnologia será capaz de eliminar.” E completa, “Máquinas conseguem administrar recursos de uma maneira que humanos não conseguem.” Lendo essas declarações, é difícil de pensar em quaisquer problemas que não poderíamos resolver com nossa própria inteligência e através de meios mais simples, determinação, e uma mudança de perspectiva e de comportamento. De todo modo, é óbvio que humanos sempre foram bastante capazes de gerenciar recursos, a questão é que aqueles que detém e lucram com o status atual, através da força, negam o acesso amplo a esses materiais, e a maioria da população é conivente. Escolher não mudar a situação e não lutar contra o “futuro” é uma posição que maioria irá escolher.

Tanto é, que após um século de progresso tecnológico e promessas de erradicar a fome e a poluição, uns poucos são ricos além da compreensão enquanto as massas continuam lutando pelos recursos mais básicos; avanços médicos e mesmo remédios comuns ainda são escassos em muitos países. Para nos manterem quietos, eventualmente nos entregam bugigangas: internet, espertofones, apps, redes sociais, jogos de computador, live streams e podcasts, próteses e promessas de mais por vir. Mas os avanços reais não serão distribuídos de forma mais justa que a riqueza das revoluções industriais anteriores, e os avanços reais terão de ser resistidos por nós: a vigilância total em um mundo sem privacidade, exigências de controle mental absoluto, conformidade total através de condicionamento comportamental do cidadão e da “comunidade”, “moral cívica” e sistemas de benefício como a renda básica universal (mínima).

Se uma revolução industrial não consegue satisfazer suficientemente as necessidades da humanidade, para ser plenamente aceita, ela apaga essas necessidades ou se impõe através da força. No contexto da 4RI e da 5RI, as características que as máquinas atualmente não possuem – empatia, amor, intimidade, por exemplo – são danificadas no ser humano pelo próprio complexo tecno-industrial – do medo da intimidade e de relacionamentos em “tempo real” que resultam do uso das redes sociais, à falta de empatia que sabemos que é induzida por fármacos como paracetamol, venenos em nossa comida e no sistemas de água – então dirão que essa tecnologia de fato sacia nossas (agora modificadas) necessidades. Domesticados, escravos brutalizados de um sistema mecanizado de materialismo, ganância e egoísmo.

Isso é parte do domínio do mundo-máquina: discursos sobre reparar deficiências e curar doenças escondem a mecanização do corpo; falas sobre a extensão da vida significam que as elites reinarão para sempre. Enquanto os tecnopadres entoam cantos sobre libertação de nossos corpos orgânicos, a prisão biológica, através do upload de nossas consciências, conquistando imortalidade, e sendo capazes de considerar nossos corpos como meras “capas” a serem trocadas a qualquer momento que quisermos ou precisarmos, o que está acontecendo é que os corpos da maioria tem sido transformados em prisões por uns poucos que de fato se beneficiam dos avanços sobre extensão da vida e controle de doenças (sistemas públicos de saúde sem investimento, equipados com as tecnologias mais antigas e baratas, e para muitos, se quer esses sistemas estão disponíveis). Mas essas novas tecnologias transhumanistas não pretendem libertar a todos.

Apesar das mentiras dos futuristas a implementação dessastecnologias irão aumentar a distância entre os incluídos e excluídos. Os poderosos criarão cidadelas, que os afastarão mais que nunca, da fúria dos de baixo. Conforme o corpo se torna matéria bruta para um novo setor da biociência, em um mundo onde máquinas farão a maior parte do trabalho, e o corpo humano em si se tornará mais um repositório para o Capital, e, novas formas de exploração e indústria. De fato, isso já está acontecendo. Com a pesquisa de células de estamina, edição de genes, bio enhancers, novos produtos farmacêuticos, próteses, análise e mapeamento em massa de células e DNA. O Eu soberano e o privado entrarão em um novo reino de valoração, mercantilização, ajustamentos e divisão social sem fim, á serviço do Capital, da bio-vigilância, da vaidade e da desigualdade. Na 4RI, a sociedade de consumo vai por caminhos muito mais profundos e sombrios que a compra de objetos. O objetivo final da 4RI é nos “desconectar” de nossos corpos e do nosso entendimento de nós mesmo como parte da biosfera e do bio ritmo, assim eles também podem ser vistos como algo a ser comprado, melhorado e “consertado”, uma série de partes mecanisticas, substituíveis, que podem ser artificialmente produzidas á um certo preço, e promovidas como possuindo melhores qualidades que as bases orgânicas originais. Um ser artificial que, uma vez que tenha entrado no templo da tecnologia é para sempre dependente e sustentado por fármacos, cirurgias e tecno-psiquiatricas, “updates”, dispositivos e corporações.

O futuro tecnológico do corpo humano talvez não seja a morte (para os poucos que podem se dar ao luxo de pagar pela imortalidade), mas será a mortificação, a existência fria e faminta de uma existência escravizada.

Enquanto isso, a Terra continua morrendo e desenvolvimentos tecnológicos, longe de prover as soluções que propagandeiam, estão a destruíndo, em uma velocidade exponencial, famintos por materiais, eletricidade e minerais raros. Apenas os minerais raros necessários para a fabricação dos espertofones, causam um dano incalculável para a saúde humana e do planeta

Baotou, interior da Mongólia, é o principal centro de extração de minerais raros, suas minas estão cercadas de resíduos tóxicos (subproduto da mineração), a maioria de thorium radioativo. No Congo, a extração de Coltan é conhecida por ter devastado e causado sofrimento imensurável para a terra, humanos, comunidades e vida selvagem. A corporação de mineração Molycorp, gosta de apresentar a si mesma como uma empresa de mineração ética, mas sua extração de neodymium para auto falantes, europium para criar as cores nas telas do iPhone e cerium que é usado como solvente para polir telas, continuam sendo pilhados em uma escala insustentável, que deveria ser mantido na Terra e requer grandes quantidades da natureza para depositar os substratos da criação das minas. Atualmente, não existe escapatória da simples realidade: tecnologia é dependente da destruição de ecossistemas, incluindo os últimos animais selvagens e comunidades indígenas, com populações humanas civilizadas cada vez mais confinadas em seus “habitats” tecnológicos – “smart” megalópoles.

Haverão pequenas brechas para se viver, e nossas redes e vidas individuais estarão sobre um escrutínio ainda maior, com ainda mais invasão em nossa autonomia, mas isso será mais ou menos terrível do que seria para um camponês, expulso de sua terra e forçado trabalhar nas fábricas nas novas cidades ? Ou a luta que os povos indígenas tem lutado ao redor do mundo ?

Nossa missão é tentar preservar o que pudermos de uma vida selvagem, cada vez menor e mais frágil, enquanto organizamos e fazemos ataques que atinjam não apenas a infraestrutura, mas também os símbolos e representantes do Estado, da Tecnologia e do Capital.

Nós precisamos pensar e nos preparar agora, adquirindo as habilidades e meios que nós e outros irão precisar para navegar nesse novo mundo e refletir sobre o que significa ser anarquista. Nós devemos tentar limitar o dano feito pela civilizações predatória, manter a memória combativa viva e relembrar por que e pelo que estamos lutando. Nós estamos encarando nada menos que a tentativa de apagamento de toda vida selvagem não domesticada, e o fim de maneiras de ser e pensar através do condicionamento social, repressão, coerção e participação voluntária. As estruturas irão se manter as mesmas: desigualdade, escravização, privilégio e opressão , autoritarismo, destruição, mediação e alienação.

Vão existir brechas neste sistema, sempre existirão. E assim, anarquia, a pulsão de liberdade e autonomia, também crescerá, através de cada brecha e fissura. A continuidade da luta está na questão da liberdade, da autonomia pessoal, da escravidão, do controle e da vigilância de muitos, por poucos, de acordo com sua própria agenda. Essas coisas não mudam, não importa se estamos falando da Primeira Revolução Industrial ou das próximas.

[Síria] Primeira declaração oficial da organização anarquista político-militar do leste do curdistão (Rojhelat)

Posted on 2025/05/15 - 2025/05/15 by holasoyp1x0

Publicado originalmente em Anarchism ERA.

“A Organização político-militar Anarquista do Leste do Curdistão (Rojhelat) anuncia oficialmente sua existência hoje, 18 de Novembro de 2022. Nós somos uma organização anarquista ativa no leste do Curdistão e nosso objetivo é criar uma revolução social através da luta nas ruas, quebrando a hegemonia e o monopólio do uso de violência do governo fascista e teocrático do Irã. Essa revolução pertence a classe trabalhadora, as mulheres, pessoas oprimidas e minorias do que é hoje a geografia do chamado Irã.

A resposta que damos é uma bala. Essa conclusão não é apenas uma questão prática, mas também um entendimento de nossa identidade, filosofia e políticas. Somos parte do mesmo movimento que ergueu a bandeira do Exército Negro da Ucrânia, que lutou na Guerra Civil Espanhola, e fez da América Latina um inferno para os imperialistas, o mesmo movimento que nos anos 70, 80 e 90 transformou a Europa em um campo de batalha contra os capitalistas….

Hoje somos nós que nos levantamos pelos oprimidos e iremos transformar o Curdistão no cemitério dos fascistas. Em nossa primeira ação…. Fechamos Sanandaj-Mariwan e Sanandaj- Saqez e atacamos os mercenários do governo seu caminhões transportando bens expropriados. Esse é o começo do caminho, dias melhores virão. Essa declaração pertence ao setor político-social da organização e o setor militar da Organização Anarquista do Leste do Curdistão (Rojhelat) irá anunciar sua existência em breve, em outra declaração para todas as pessoas de luta.”

Uma mensagem anárquica vinda do território peruano (24.01.23)

Posted on 2025/05/15 - 2025/05/15 by holasoyp1x0

Considerando as distorções de informação que as esquerdas e direitas fazem sobre a rebelião peruana, desejamos compartilhar nossa percepção anarquista do que acontece nas mesmas entranhas desse corrupto e apodrecido estado chamado “Peru”.

Os protestos tem como vanguarda o campesinato, os primeiros a se mobilizarem. Ainda que as exigências sejam de caráter político (novas eleições, assembleia constituinte, etc.) estas passaram para o social e pouco a pouco vão se aderindo diversas reivindicações (que tanto a mídia de massas como a esquerda trata de maquiar como sendo políticas). No início os protestos foram esvaziados mas a repressão indignou o povo a ponto de acontecer um levante geral; o sentido de identidade unificou a nós andinos para lutarmos contra o opressor (quechuas, wanks, aymaras, chankas, etc.)

E agora estamos na etapa onde à força se fará cair a autoritária Dina Boluarte, que está escondida no castelo da extrema direita do Peru: Lima (a capital).

Essa crise desmascarou o que sempre foi maquiado com algo chamado: “democracia representativa”. Assim, a pobreza e a violência estatal extrema nas alturas dos andes, deliberadamente ignoradas pelas instituições do ESTADO e do CAPITAL, têm sido explícitas. O genocídio de Dina Boluarte e seu açougueiro Otarola, são uma pequena mostra do que historicamente se viveu e do que experimentaram nossas famílias e/ou etnias.

Xs assassinados pelas forças repressoras do Estado do PERU não deixam de aumentar, no exato momento em que nos encontramos escrevendo, os policiais e milicos mataram mais de 60 pessoas; crianças ou idosxs todxs faleceram frente os disparos a seus torços e cabeças… enchendo necrotérios e hospitais dos andes e do território do altiplano. Os feridos, detidos e torturados aumentam, a perseguição se aprofunda a ponto de censurar textos e perseguir editoriais e livrarias. Se mete bala ao transeunte e se paga bônus a polícia por seu trabalho de açougueiro.

Em 21 de janeiro a polícia fez operações em espaços autônomos como as universidades (as quais abrigavam manifestantes das províncias dessa região), casa de gente que deu guarida a seus conterrâneos de província, associações e coletivos que oferecem primeiros socorros. A polícia se sente empoderada pela presidenta assassina e apela para a violência para calar a boca de qualquer crítico (não se salva nem o pacifista, o legalista, todxs levam pau por serem “bocones”). E eis que a democracia peruano deu seus frutos, e nos faz viver o “agradável” caráter “legal” dos ESTADOS DE EMERGÊNCIA… momentos no qual as forças repressoras têm total liberdade de assassinar sem nenhuma responsabilidade penal. Enquanto os endinheirados das cidades celebram, aplaudem e beijam os assassinos. Outros são encarceradxs, perseguidxs, torturadxs ou assassinadxs.

Os ESTADOS DE EMERGÊNCIA também significam corrupção, algo que é da genética destas instituições repressoras, já que têm total liberdade de gasto e toda boa vontade do Ministério da Economia (o qual se caracteriza por ser dos mais tecnocratas e discriminatórios, quase um quarto poder).

Saem de Lima: Helicópteros, caminhonetes, ônibus, aviões de guerra, munição, e pessoal (desde a velha polícia de trânsito até o iniciante inexperiente do primeiro ano da escola de policiais). E logo, de acordo com que planejaram os açougueiros, distribuem a polícia nas zonas de bloqueios. As Forças Armadas, graças ao apoio dos EUA, se encontram empoderadas e mandam seus soldados matar na altura dos andes e infiltram suas equipes nas manifestações com o objetivo de ter caguetas, voyueristas e sabotadores.

Ao perceber que a resistência persiste e suas munições estão por acabar, mandam seus lambe-botas a loja de doces com 661 mil 530 dólares para adquirir todo tipo de guloseimas pelas quais são viciados (balas de borracha, gás lacrimogênio, sprays de pimenta, munição, etc.), dão bônus aos policiais e lhes prometem mais dinheiro por sua efetividade (até se financia contramarchas de fascistas, se compra líderes comunitários, etc.). Buscam todo tipo de apoio que seja… mobilizam pessoas dos círculos mais ilógicos (desde udex, trânsito, turismo), disfarçam carros de guerra dos milicos para os tornar democracy friendly, usam a mobilidade e a equipe de serenazgo (espécie de segurança municipal) e logo celebram (O PODER ECONÔMICO-POLÍTICO SEMPRE RECOMPENSA AO AÇOUGUEIRO)

Assim chegamos a uma encruzilhada onde fazer frente a esta loucura sangrenta significa ser um número a mais no necrotério. Onde o limenho racista te considera sub-humano por protestares. Onde te assassinar não trás problemas éticos ou religiosos (ao contrário as forças religiosas o celebram).

Também expomos que a luta que se observa nesta região é diversa, não acreditamos nos meios de comunicação ou influencers que expõem os protestos como “pacíficos”, “civilizados” ou “pela assembleia constituinte”, ou mesmo o delírio de serem “pela liberdade de Pedro Castilho”, não se deixem enganar. Tão pouco se deve dar atenção a propaganda de direita que superdimensiona a atividade de esquerda nos protestos, ao ponto e quererem levar o Peru a uma guerra com a Bolívia (por uma suposta “ingerência política”) ou de forçar uma guerra civil nesta região.

Para concluir; nós, mulheres, trans, machonas, maricones, lesbianas, trakas, não bináries, qhariwarmis, cabrxs, bissexuais e diversidades anarcas marrones, andines, aymaras, precarizadas que não sabemos de “justiça” aqui ou no exterior e sofremos o racismo continuamente… manifestamos que nunca estivemos fora dessa crise, jamais seremos indiferentes ao abuso de quem tem poder. Jamais esqueceremos os assassinatos, balas, golpes e agressões, e vamos devolvê-los. E a toda esquerda conservadora que quer se apropriar da luta como veículo político (Perú Libre, Antauristas, UPP, etc.) e que desejam que nos desapareçam, lhes dizemos: resistiremos e lutaremos pela libertação total!

SAÚDE Y ANARQUIA.

[DE ALGUMA PARTE DOS ANDES DO ESTADO GENOCIDA PERUANO]

[Peru] Como os fachos peruanos buscam se reproduzir na internet ?

Posted on 2025/05/15 - 2025/05/15 by holasoyp1x0

Publicado originalmente em espanhol, no Periodico Libertaria, site do coletivo anarquista de compas que residem no território hoje dominado pelo Estado do Peru. Em 15 de Abril de 2022.

É uma feliz surpresa encontrar anarquistas do continente escrevendo sobre as movimentações e tendências fascistas de seus territórios.

Pela defesa e enraizamento de um ecossistema informacional anarquista e antifascista.

Introdução

Antes de nos aprofundarmos no tema, cabem algumas explicações.

1. O uso da internet em nossa região não engloba a totalidade do território e isso se demonstra pelas campanhas políticas fracassadas nas plataformas digitais e o êxito do conservador, corrupto e assassino Castilho sem a necessidade de “influencers”. No entanto, acreditamos que tais plataformas estão aumentando seu raio de influência em nossa região, algo inevitável já que o maquinário de infraestrutura, muitas vezes financiada pelo capital estrangeiro, e o “progresso” que o Estado deseja impor está associado diretamente com o mundo digital.

2. Os quadros que impulsionam este projeto de “progresso” são em sua maioria de direita, é nessa parte do campo político que as plataformas digitais têm prioridade, e onde podemos observar a quantidade de campanhas à favor de projetos de mineração, propaganda política e até o financiamento de periódicos digitais (vale relembrar que a Odebrecht financiou a publicação de um jornalista medíocre que se diz “livre pensador” , que não é mais que apenas outro neoliberal)…[2].

Em síntese, o que vemos atualmente nas plataformas digitais têm um viés diferente do que se via uns anos trás, por exemplo, aumentou o número de trolls de direita, muitos financiados por empresários-políticos e outros que simplesmente acreditam no lixo neoliberal. Outra novidade repugnante é a escalada de “influencers” de extrema direita e fascistas, há alguns anos era raro de se encontrar uma quantidade tão grande de fãs “militantes” de ditadores e genocidas, o lixo monarquista e de livre mercado, etc…

Existe outra novidade: o financiamento de trolls por parte da esquerda. Castillo e suas tropas tem ativado uma máquina de guerra suja em duas frentes: jornais e trolls. O esquerdista, e o chamamos assim em forma de piada, segue a tática de Comitern de “classe contra classe” mas de trolls, assim com um gene autoritário trata de dar contra a mídia de massa da direita neoliberal [3]. Damos ênfase na novidade já que a direita fascista já tem experiência na com trolls e não se envergonham disso, por exemplo, desde o parlamento fujimorista [4] do período anterior se financiava estes trabalhos… Hoje em dia se sabe que esses trolls mudaram de patrões e andam espalhando suas merdas de extrema direita de algum call center de Lima.

Assim os trolls fazem suas campanhas de propaganda, de “doxx” de seus oponentes, o cyberbulling e infiltração de comunidades digitais. Este último é o ponto ao qual queremos dedicar mais tempo.

O T A K U P E R O N U N C A F A C H O!

Sobre as comunidades digitais peruanas, a infiltração fascista e os jovens militantes.

Exposta a face mais conhecida dos fachos peruanos da internet, passaremos por alguns lugares não tão visíveis para os imigrantes digitais (quer dizer, aqueles que ainda não manejam bem o uso da internet devido a sua idade ou questões econômicas).

Antes, é preciso indicar que ser nativo digital não necessariamente te torna alguém imune a propaganda fascista… Pelo contrário, como nos E.U.A., podes ser até hacker e cair nas redes dessa ideologia lixo (existem casos de ataques de hackers a portais anarquistas e de esquerda, todos com autoria fascista).

Um sociólogo francês do fim do século passado já nos esclarecia sobre as novas formas de socialização dos jovens das chamadas tribos urbanas, não falava de forma pejorativa como alguns idiotas pensam, mas se tratava de analisar e esclarecer o motivo da união dessas pessoas e os valores que os moviam – bons, maus, o que for – por exemplo, são conhecidos os trabalhos sobre punks, metaleitos, torcidas organizadas de futebol, etc.

E por qual motivo falar disso ?

Imagine tudo o que dissemos no parágrafo à cima, acontecendo na internet… É isso!

Sim. Agora falamos de tribos digitais (fãs de memes, otakus, kpopers, gamers, etc.) e de outros subgrupos, com coisas mais específicas (seguidores do moe, jogadores de dota, fãs de vtubers, tiktokers de asmr e o que mais pudermos imaginar).

Dado o panorama, a propaganda fascista no Peru tem maior ressonância em alguns subgrupos, mas antes disso, deve ter quadros que ocupem o papel de formadores de opinião, ou “Influencers”.

Com a chegada da internet o “faça você mesmo” se tornou algo de direita e capitalista. A televisão que nos oferecia lixo, foi a base para as futuras tendências mais utilizadas ndas redes sociais… Se nos primeiros momentos da internet existia uma busca utópica que buscava a socialização total do conhecimento da cultura humana, isso se degradou na busca por lucrar com nossos clicks e a imposição da ditadura do “algoritmo” das grandes empresas (compare a denúncia de pirataria que Metallica fez ao site Napster, com a atual competição do Spotify e YouTube para oferecer música com copyright, os tempos mudaram!).

Retomando, o conteúdo oferecido em nossa região é muito precário, mesmo que haja boas intenções. Por exemplo, existe um youtuber de nossa região que fala sobre “história peruana” e que veio a ser um dos primeiros influencers desse tipo de conteúdo. Até aqui, nenhum problema… Mas acontece que esse tal influencer nunca cita as obras de “história” que ele “lê” para fazer seu conteúdo. Muitas pessoas confundem o “academicismo” ou os “direitos do autor” com a verdadeira natureza das notas e citações, que servem para a ampliação de nossos conhecimentos sobre tópicos que estejam sendo expostos. Assim, este influencer pode nos enganar ou simplesmente estar lendo a Wikipedia (portal não tão seguro pois é modificável por qualquer um) e nós o tornamos popular e no processo enchemos sua carteira (o mesmo pode acontece com os que criam conteúdo de “react” que são simplesmente uma sequência de elogios a um certo país, em busca de views, likes e dinheiro).

E por qual motivo falamos disso ? Somos haters ? É inveja ? NÃO!

Se atacaremos aos influencers fachos também devemos atacar essa atitude que nos fecha num pensamento ignorante onde o conhecimento é recebido por simples auto complacência (“eu consumo isso e me torno melhor que você” ou “me faz formar parte de certa comunidade”).

Assim, o “faça você mesmo” se misturou com a bobagem neoliberal do “empreendedorismo” jogando com as ideias repugnantes de Tv-lixo que assistimos desde pequenos… Só falta adicionar a “liberdade” e o “livre mercado” e teremos a influencer fachos de nossa região; se adicionar “negócio” tens um Coach.

É através desse “economização” da busca do conhecimento (em palavras simples, supostamente saber mais ou de se esforçar para saber mais), que é graças a educação de merda que o estado nos oferece, isto faz da gente de nossa região o público indicado para irradiar lixo de todo tipo. Um exemplo ?

Uma vez, em uma kombi, ia cansada de trabalhar rumo minha casa, quando de repente uma pessoa “xis” subiu, e já com o volume alto se pôs a ver um vídeo no Facebook. Nesse vídeo se falava do “socialismo que mata de fome”, sobre o melhor do “livre mercado”, etc. E logo vieram outros três vídeos mais, um deles sobre os Incas terminou a fascista de Beto Ortizz [5] Sem ser grosseira,pedi para que ele usasse fones de ouvido. Essa pessoa está em busca de conhecimento que nunca pode ter por conta da precariedade econômica e lamnetavelmente o “algoritmo” o devorou, e talvez seja um facho a mais, desses que existem aos montes em Lima.

Esta auto complacência e “economização” da bisca do saber no beneficia apenas a extrema direita, mas também há certos esquerdistas conservadores e xenofóbicos que vomitando seus discursos ultranacionalistas tem repercursão nas redes sociais.

Assim, vemos que é transversal esse fenômeno pois nativos e imigrantes digitais caem nas redes destes medíocres “influencers” e da ditadura do “algoritmo”. Esta seria a forma mais explícita de como as ideias de extrema direita tratam de posicionarem-se na internet, óbvio que também há investimento de dinheiro… Também há o sensacionalismo, também pagam pelo clickbait automatizado (em especial em páginas populares no país).

De gamers a fascistas

Nos protestos fascistas de Lima [leia nosso editorial de emergência] apareceu um certo personagem que transmitiu ao vivo, para um grupo “xis” de gamers, tudo o que aconteceu, pedindo doações e narrando com uma espécie de “humor negro” o que via.

Cobrir protestos fascistas de forma militante é algo que se vê em diferentes partes de nosso planeta, mas o que esse personagem fez foi uma transmissão em busca de algo mórbido. Essa busca de gerar algo politicamente mórbido, seja com haters ou trolls, é a primeira missão para maquiar a propaganda da extrema direita. Tática que é importada do conteúdo mais lixo da internet, vide todos aqueles influencers que através de atos viscerais querem criar tendência.

É conhecida a postura antifeminista e antifuna[NT1] que impregnou parte das comunidades gamers, justificando essas posturas com o rótulo de “humor negro”, este é o contexto em que se germinam mentes autoritárias.

No Peru, devido ao aumento exponencial do uso da internet, a comunidade gamer se ampliou muito, integrando até os chamados “normies” (gente que não é tão interessada em jogos como a comunidade, jogadores casuais).

No Peru, existem comunidades tóxicas conhecidas e emergentes[6], não citaremos o nome, pois o deixariam orgulhosos mas indicaremos sobre qual jogo falam (o mais popular no Peru), os tópicos nos quais engajam e como estão relacionados com a extrema direita.

Todo o chorume antifeminista dessas comunidades serviu como plataforma de “anti progressismo”, um delírio da nova direita ocidental que já está se alastrando pela América Latina.

No Peru, essa postura era minoritária no espaço público e na internet, há alguns anos atrás. Mas agora temos comunidades de gente tóxica, trolls e haters, estes têm servido para transformar em tendência certas posturas dessa extrema direita.

Há comunidades, em específico do dota2, que em seus grupos, passa a ter uma postura mórbida e de “humor negro”, até mesmo uma apologia anti-direitos e delírios fascistas. O impulso da suposta “rebeldia” de direita tomou conta dessa comunidade, onde tradicionalmente se fazia “zuera”[7] do seu streamer favorito (uma espécie de amor e ódio tóxico).

Incentivam o cyberbulling contra pessoas LGBTQ e feministas, racismo, assediam kp

opers e por vezes são seduzidos pela esquerda conservadora (as pessoas do Ágora[8] lhes dão uma atenção especial). São pintados como vigilantes ao “desmarcarar” figuras da televisão-lixo mas no fundo o público não chega a compreender o que realmente são.

Nestes grupos e seus anexos, se compartilha material de conteúdo ilegal, se faz apologia à violência de gênero, a pedofilia, se faz doxx (pagando el padrón de la reniec) e sem justifica tudo como sendo “zueira”.

Seus “ídolos” são streamers que desde muito toleram a existência destes grupos de gente tóxica pelo simples fato que conseguem monetizar os chamados “olinhos” (ou seja, a quantidade de pessoas que vê seu conteúdo)

Por serem uma comunidade “zueira” compartilhar conteúdo para polemizar ou gerar sentimentos mórbidos, assim a propaganda política foi entrando fortemente. Houve mesmo candidatos que queriam financiar campanhas publicitárias com streamers.

O político da esquerda conservadora, irmão do corrupto Acuña (empresário amigo de Vargas Llosa) e adorador do facho Antaurro Humala (irmão do ex presidente que está preso e criador de uma ideologia fascista chamada Etnocacerismo e seus membros, em sua maioria ex-soldados, militares inativos, etc.) não teve tanto êxito, diferente do candidato López Aliada, fascista da opus dei (seita católica ultra conservadora), que teve certa recepção nas comunidades gamer mais tóxicas da internet.

Após um princípio de sedução com a esquerda conservadora, os antifeministas, acabaram por aderir à extrema direita. Em seus grupos compartilham conteúdo de “libertários”[9], supostos “debates” onde derrotam a esquerda, vídeos de doutrinamento neoliberal e piadas sobre a “izmierda”. Na prática, essa comunidade aceita ser a caixa amplificadora do lixo que vem dos novos influencers fachos.

Mas também se observam grandes contradições nestas comunidades (durante a campanha de 2021, dentro delas houveram debates intensos entre fujimoristas e antifujimoristas) o que predomina é uma aposta no fascismo, única plataforma que legitima suas ações antifeministas, anti direitos e a total “liberdade” de desfrutar o conteúdo mais criminoso e repugnante da internet.

Com os questionamentos ao Facebook por vender dados a Putin e a chegada das denúncias internacionais sobre o conteúdo ilegal que se compartilhava no Facebook, a resposta de Zuckerberg foi implantar monitoramentos mais intensos em sua rede (obviamente por gente terceirizada do terceiro mundo e mal paga para ver toda essa porcaria), isso afetou as comunidades tóxicas peruanas e as fez migrar para redes mais “seguras” como o telegram.

Os novos militantes da extrema direita se alimentam assim, de uma rota onde se tolera conteúdos fascista: educação peruana militarizada, sociedade decadente e misoginia, exploração neoliberal, comunidades gamers tóxicas e finalmente replicam a propaganda das tendências e dos influencers fascistas peruanos, para terminarem por se tornarem fascistas.

Ainda há tempo de combater essa praga, a internet ainda não é de uso generalizado na nossa região, o que favorece a luta nas ruas. E o fascismo está circunstrito a Lima, o que faz com que a propaganda de nossos compas de outras regiões sejam muito importantes: escutemos!

Nota do tradutor

[NT1] “Funa” é semelhante a “doxx” ou “exposed”, quando alguém, geralmente uma vítima de abuso, conta sua história e dá informações sobre seu suposto abusador, como fotos, telefone, perfil de redes sociais, etc.

[1] Na última campanha eleitoral presidencial (2021) aconteceu algo estranho para os limenhos; um candidato nada conhecido chegou a segundo turno e isso se deu graças a incredulidade da maioria e de uma campanha da esquerda ainda apostando em formatos tradicionais (rádio, tv). Isso pode ser ilustrado por aquela cena no canal de televisão da capital onde o candidato com a maior intenção de voto, aparecia sem foto na divulgação das pesquisas. Além disso, no segundo turno houve um gasto milionário em uma campanha suja contra o presidente, atitudes típicas da direita neoliberal. A indiferença em regiões frente as campanhas políticas digitais também está relacionada com a ausência da internet, tanto em infraestrutura como serviços, e o afastamento do tal “progresso” que o capital trata de impor.

[2] Existem empresas especialistas em áudio visual e marketing que são as favoritas da direita neoliberal. Estas empresas limpam a reputação dos projetos mais vis, e o fazem em meio aos escândalos, ou quando acontecem ações diretas da população em oposição ao empresariado, sobretudo quando se trata dos relacionados a mineradora: Mina Tia Maria (Argentina), Arequipa para os arequipeños, Plus Petrol-Repsol (2022), Empresa de lacteos Gloria, etc. Esta empresa ou conjunto de empresas de marketing tem uma trabalho nas redes sociais e bombardeiam a tv, em busca de anular as opiniões de quem protesta.

[3] A direita peruana, cuja maioria abraçou o fascismo, acusa o atual presidente de ser comunista, chavista, castrista, etc. O usaram inicialmente para evitar que ganhasse as eleições e agora o usam para pedir seu impedimento. O irônico é que o atual presidente é um completo principiante ideológico, é um convidado de um partido corrupto chamado Peru Libre (que diz ser Marxista, Leninista, etc. e no fundo é mais uma corrupção chavista). O estranho é a aparição de jornais amantes de Castillo e Peru Libre, após ele ter chego ao poder, assim como a aparição de trolls nas redes sociais, defendendo a esquerda conservadora.

[4] Fujimorismo; é uma força política encabeçada por Keiko, a filha do ditador e genocida Alberto Fujimori; O uso de trolls foi uma de suas contribuições a política peruana, tanto que, do parlamento financiava pessoas para comandar trolls contra todos aqueles que eram seus antagonistas. Essa forma de fazer política vem de seu pai, que junto de seu assessor Montesinos, que em plena ditadura comprava a oposição ou a destruía nos jornais que criou.

[5] Jornalista fascista que compartilha fake news, ataca aos opositores da extrema direita. Trabalha para o canal mais fascista da televisão peruana: Willax. Esse canal é de um empresário que financiou todas as marchas contra o atual presidente e onde se expõem uma grande quantidade de gente de extrema direita, protofascistas, fascistas, etc. (hispanistas, libertários-ancaps, pór vidas, ultracatólicos, etc.) O mesmo jornalista vive no México pois recebeu denuncias por difamação e publicamente, ainda se discute sua acusação de pedofilia, que até agora não está bem explicado mas há indícios de que tenha usado seu poder pata destruir o caso.

[6] Modelos parecidos com 4chan, LegiònHolk, etc.

[7] A origem do grupo virtual mais tóxico do país, vem de um streamer de dota2 que permitia que as pessoas fizessem bully com ele pois isso lhe dava visibilidade e dinheiro. A “zuera” escapou de seu controle e agora o grupo age de maneira independente a ela. Tanto que roubaram a identidade deste streamer e agora está sendo levado aos tribunais por acusações de fraude e roubo.

[8] O Ágora é um grupo político da esquerda conservadora que reivindica o nacionalismo xenofóbico, suas atividades se limitam a uma praça da capital e também fazem lives através do Facebook. É através dessa plataforma digital que buscam seduzir aos membros dessa comunidade tóxica.

[9] Gente anarcocapitalistas (que grande idiotice) e todo esse lixo ultra neoliberal que vêm dos EUA.

[Hong Kong] Apontamentos sobre o Uso de Tecnologias nos Protestos de Hong Kong

Posted on 2025/05/15 - 2025/05/15 by holasoyp1x0

Esse texto é uma tradução-adaptação , o original pode ser encontrado aqui.

Consideramos esse texto, por si só, muito interessante para uma breve análise das táticas empregadas na revolta de Hong Kong em 2019, unos oferece uma visão bastante nítida dos potenciais insurrecionais que o uso criativo e difuso de tecnologias cotidianas nos oferecem.

Importante ressaltar, o texto data de 2019, de lá pra cá muita coisa mudou no contexto da guerra social local, e Hong Kong parece uma vez mais, pacificada sob as botas do regime chinês. Enquanto nossoscamaradas de lá aguardam o momento de se rebelaram novamente, nós nos reunimos pra aprender e discutir seus feitos.

Se te instigar a curiosidade sobre esses eventos, te recomendo fortemente conferir o documentário em três partes que o Popular Front fez, sobre esses mesmo conflitos.

Morte ao Estado e que Viva a Anarquia.

Boa leitura.

Os protestos pró democracia em Hong Kong estão entrando em sua décima quarta semana. Mais de mil pessoas já foram presas, e muitos ativistas já foram seriamente feridos pela polícia. A festividade de aniversário de setenta anos da China está chegando em primeiro de Outubro, e o quinto aniversário dos protestos de Occupy Central [1] serão em 29 de Setembro, então o clima é de alta tensão.

Irei explicar brevemente o contexto legal dos protestos, e as ameaças que os manifestantes enfrentam, antes de explicar as maneira que eles tem utilizado redes sociais e aplicativos de mensagem para coordenar protestos.

Contexto Legal

Hong Kong é uma Região Administrativa Especial da China, com altos níveis de autonomia formal . O território foi cedido à China em 1997 sob o modelo “Um País, Dois Sistemas”, criado para preservar seu sistema legal e econômico. Pelo tratado, Hong Kong supostamente desfruta desse status especial até 2047.

Os protestos atuais são uma série de confrontos entre manifestantes e as autoridades em Hong Kong, com pressão de Beijing nos bastidores, mas sem interferência aberta. De um lado do conflito está o Chefe do Executivo e os 30.000 membros da polícia de Hong Kong. Do outro, lado, temos essencialmente, todo o resto da população. Nos protestos de 9 e 16 de Junho foram estimados, respectivamente 1 e 2 milhões de participantes nas manifestações, em uma cidade de 7 milhões. Até agora 1.000 pessoas foram presas e manifestantes tiveram ferimentos graves, alguns sofridos após as pessoas serem levadas sob custódia da polícia.

Apesar de existirem bolsões de Hong Kong que apoiam o continente (como a vizinhança de North Point, que tem laços com a província de Fujian), os protestos gozam de amplo apoio social, em parte por conta da violência policial ter escandalizado uma sociedade onde violência é algo raro.

É compreendido que a polícia de Hong Kong é uma autoridade executiva que responde as diretivas de Beijing, mas o sistema de corte de Hing Kong é genuinamente independente.

Hong Kong está fora do Great Firewall[2], com acesso irrestrito a internet. Isso não é apenas uma escolha política, mas uma realidade física; A infraestrutura não está posta de um modo que facilite a expansão rápida dos controles de internet da China continental sobre Hong Kong.

É importante compreender as restrições da China. Hong Kong é a rota da China para o sistema financeiro global, e esse status depende da continuação da independência o sistema legal de Hong Kong. Tanto investimento financeiro estrangeiro, quanto o sistema bancário internacional dependem de Hong Kong por conta de suas fortes garantias oferecidas por suas cortes. Qualquer violação dessas leis, pela China poderiam ter repercussões catastróficas caso espantassem as empresas internacionais.

O status especial de rota financeira protege Hong Kong. A corrupção nos níveis mais altos do Partido Comunista Chinês oferecem um nível adicional de proteção. Oficiais chineses contam com o funcionamento de Hong Kong para várias formas de lavagem de dinheiro. Não existe maneira fácil de comprar uma vila italiana com renminbi[3] que não passe por Hong Kong.

Beijing tem uma combinação de incentivos “macroeconômicos” e “microeconômicos” para deixar Hong Kong sem interferência. Intervenção direta iria ferir a economia chinesa, e o fim da rota financeira de Hong Kong afetaria pessoal e drasticamente grande parte das elites.

Isso torna boa parte das estratégias chinesas de como lidar com dissidências internas, impossíveis de serem usadas em Hong Kong. Em especial, Blackout de Internet, prisões arbitrárias, extradição para o continente ou o uso direto do Peoples Armed Police, o PLA, seriam todos métodos inaceitáveis para o interesse financeiros internacionais.

O problema com essa proteção é que ela é frágil. Uma vez que a China cruze a linha e espante o capital internacional (impondo restrições de internet, ou atropelando as cortes locais), possivelmente não haverá mais defesas contra outras formas de interferência direta.

Ameaças

A Lei Básica de Hong Kong garante aos seus cidadãos a liberdade de expressão e de imprensa. O ponto fraco é a liberdade de reunião. Se a polícia declarar uma reunião de três ou mais pessoas como ilegal, a pena pode ser de até dez anos de cadeia. Os organizadores dos protestos de 2014 responderam ou estão respondendo à essas penas.

A China também tem posto uma enorme pressão sobre empresas de Hong Kong para que demitam trabalhadores que participam dos protestos, mais publicamente a empresa aérea, Cathay Pacific. Pressão semelhante tem sido observada sobre as escolas, agora que o ano letivo está em andamento.

Então, as maiores ameaças para os manifestantes são serem presos por fazerem assembléias públicas, ou serem identificados individualmente, por fotografias ou outros meios. Além das complicações legais, Hong Kong tem uma cultura de doxxing, que não carrega o mesmo estigma que nos EUA. Essa é uma ameaça, tanto para os manifestantes quanto para a polícia.

Outra ameaça que os manifestantes enfrentam são os ataques físicos, tanto por parte da polícia durante os protestos, quanto por parte dos bandidos afiliados à China continental, que possuem permissão para atacar impunemente. Figuras proeminentes da oposição já foram atacadas em plena luz do dia[4].

E por fim, visitantes e moradores de Hong Kong estão enfrentando repressão na fronteira de Shenzhen, onde guardas revistam aparelhos eletrônicos na busca de qualquer conteúdo relacionado aos protestos. Ao menos uma universidade de medicina retirou seus estudantes dos hospitais do continente para evitar submetê-los a essa intimidação.

Seja lá por qual motivo for, as autoridades de Hong Kong tem se mostrado relutantes em fazer prisões em massa. Eles podem não possuir a capacidade física pra isso, ou ter outras outros razões. A estratégia parece ser a prisão de alguns, para desmotivar os demais. Do lado dos manifestantes, o objetivo é não ser um dos 20 à 150 detidos à cada evento.

A ameaça da vigilância em massa é parte do cenário cataclísmico onde a China está enviando pessoas para campos de reeducação semelhantes aos dos uigure. O que não parece afetar as decisões cotidianas das pessoas, mais do que a ameaça de ser pessoalmente identificado.

Aqui, o sistema de corte de Hong Kong também oferece alguma proteção, a China não pode simplesmente pegar uma quantidade massiva de dados de torres de celular e apresentar nos julgamentos; É necessário que haja algum tipo de construção paralela.

Dito isso, a polícia de Hong Kong pode obter amplos dados de vigilância sem mandato, e a falta de medo da vigilância de massa pode ser mais psicológica, ligadas a falta de prisões em massa. As pessoas estão preocupadas em serem identificadas individualmente, e não que em algum momento do futuro as autoridades possam identificar centenas de manifestantes.

Por isso, manifestantes se concentram nas ameaças que podem enfrentar; Usam guarda chuvas e máscaras para esconder seus rostos, alguns usam cartões MTR descartáveis ao invés do Octopus card [5] que é ligado a sua identidade (já que a polícia pode escanear o cartão para saber que trajetos fizeram).

Quase todos trazem telefones celulares para os protestos, destes, poucos são do tipo descartável

Uso de Tecnologia

É importante enfatizar que os manifestantes de Hong Kong são pessoas jovens, improvisando dentro de um cenário bastante estressante. Eles não são ubernerds como vem sendo retratados em alguns canais da mídia ocidental, mas sim, centenas de milhares de pessoas comuns, preocupadas e corajosas, que vem desafiando a China. Retrata-los como especialmente competentes é um desserviço e desconsidera a coragem que demonstram.

Como lideranças se mostraram uma vulnerabilidade em 2014, os manifestantes de 2019 adotaram uma abordagem descentralizada. Não existem lideranças formais, e a coesão se dá à partir de redes sociais e laços de relacionamentos pessoais. O resultado é processo decisório do tipo “protesto twitch play” (aqueles que são velhos de mais para entender essa referência, podem pensar no processo, como uma decisão por tábua Ouija).

Os manifestantes fazem uso constante de duas ferramentas de software: LIHKG (Li-dan), um fórum de mensagens semelhante ao Reddit, e o aplicativo de mensagens Telegram.

LIHKG

LIHKG é um local para proposição de novas ideias e discussão. Existem duas categorias de usuários, destacados visualmente, baseados em se entraram no site ante ou depois da data limite do começo das manifestações. O site requer um email ISP para ser acessado. As duas medidas existem para impedir trolls.

O site é administrado de forma anônima.

As conversas acontecem em cantonês e ao menos uma vez os usuários adotaram uma forma de escrita de cantonês que é incompreensível para falantes do mandarim, como modo de defesa contra os trolls. Os trolls foram de certa forma, impedidos pelo chauvinismo da China continental que vê o cantonês como um dialeto. Esse chauvinismo impediu a China de mobilizar uma comunidade de falantes de cantonês pró China continental, capaz de influenciar ou desmobilizar as discussões públicas do fórum.

Em 31 de Agosto, LIHKG foi sujeito a um ataque de DDOS que derrubou o site. O fórum mudou seu domínio para Cloudflare e se mantém ativo até o momento.

Telegram

Telegram é o mensageiro favorito entre manifestantes. É usado para mensagem um-pra-um entre indivíduos, entre pequenos grupos de pessoas para coordenação, e entre grupos muito grandes para amplificar e disseminar informações. A ferramente de enquete também é uma maneira de firmar consenso no processo de tomadas de decisão em coletivo.

Muitas ferramentas do Telegram o tornam atrativo para os manifestantes.

· Mensagens que Desaparecem — Se a polícia te forçar a destravar o telefone, você não entrega seus aliados.

· Grupos com um número muito grande de membros (dezenas de centenas ou mesmo centena de milhares). O que permite uma rápida difusão de notícias.

· Enquetes. Já que os protestos são descentralizados, alguns mecanismos de tomada de decisão são necessários. Na prática, enquetes são usadas para confirmar decisões, onde o consenso parece nítido.

· Interface amigável para os usuários.

Em agosto foi revelado, após um cyber ataque, que era possível identificar a quais grupos os usuários do Telegram pertenciam.

O Telegram respondeu com uma atualização que permite aos usuários esconder seus números de telefone. O evento parece não ter afetado o uso do Telegram com o público, o que ajuda a comprovar a tese de que os manifestantes estão mais preocupados em serem identificados pessoalmente do que com a vigilância em massa.

Exemplo — O Modo Hong Kong

Um exemplo pode nos ajudar a demonstrar como essas tecnologias são usadas na prática.

Em 19 de Agosto, alguém postou no fórum LIHKG, dando a ideia de formar uma corrente humana em Hong Kong, no aniversário de 30 anos do protesto de Baltic Way, que aconteceu na antiga União Sovietica. Rapidamente, surgiram grupos organizados no Telegram. Eles apresentavam mapas e a logística de quantas pessoas seriam necessárias, e onde.

Logo, grupos de Telegram foram formados para cada setor da rota, que seria paralela ao sistema de metrô.

No dia dos protestos, voluntários monitoraram m tempo real os mapas e enquetes que informavam para onde as pessoas estavam se dirigindo e quais estações MTR precisavam de mais participantes. Voluntários nas saídas dos metrôs ajudaram na formação, se certificando que quando o protesto começasse às 8 PM, todos estariam em suas posições e não haveriam espaços vagos.

Um grupo no Telegram organizou a ação final da noite, com cada manifestante tapando um de seus olhos e cantando “give back the eye” às 9 PM (uma referência ao fato que um dos partcipantes que cegado por uma munição menos letal, disparada por um policial).

Essa grande ação, que seria impressionante em qualquer contexto organizativo, foi feita em quatro dias por voluntários que eram completos estranhos uns aos outros. Imagens dos manifestantes foram então usadas em artes de fãs, posters, materiais de publicidade, e também compartilhadas via KIHKG e Telegram.

HKmap.live

HKmap.live é um mapa mantido por trabalho voluntário, que acompanha protestos em tempo real, incluindo marcadores para presença policial, unidades de elite da polícia, gás lacrimogênio, e alertas sobre a presença da polícia em vias públicas. As informações no mapa são alimentadas por dados através do Telegram. Entrou no ar em Agosto.

Outros Serviços

Manifestantes em Hong Kong compreenderam que o Twitter tem um impacto desproporcional na cobertura da mídia, e que muitos jornalistas ocidentais utilizam o site. Nas últimas semanas tem acontecido um esforço de aumentar a presença de Hong Kong no Twitter, mas relatos mostram que as pessoas tem tido dificuldade de se adaptar ao site.

Alguns hong konguers usam Whatsapp, mas a limitação de tamanho dos grupos o torna menos atrativo que o Telegram. A relativa preferência pelo Telegram também tenha ha ver com desconfiança com relação as políticas de privacidade do Facebook.

O Facebook possui uma relação financeira com Xinhua, a agência de notícias do estado chinês. Xinhua se referiu aos manifestantes como “baratas” em um infame post de facebook (deletado).

Enquanto o Twitter impediu Xinhua de comprar espaço publicitário, Facebook e YouTube continuam vendendo espaço para a estatal mesmo depois de terem dito que iriam dar menos prioridade para esse tipo de conteúdo em seu algoritmo. Na prática, significa que Facebook e YouTube estão tornando o conteúdo da Xinhua menos popular, para que a Xinhua pague mais.

Esse relacionamento não contribui para criar um público cativo do Facebook e WhatsApp entre hong konguers.

[1] Occupy Central; O equivalente ao Occupy Wallstreet e toda aquela onda de eventos que se desenrolaram pelo mundo por 2013

[2] Great Firewall;

[3] Renminbi; Moeda oficial do governo chinês

[4] Alguns casos de violência contra opositores do governo chinês.

[5] Octopus Card e MTR, são cartões pré-pagos que podem ser utilizados para pagar por transporte e compras em pequenos estabelecimentos, a vantagem do Octopus, é que ele não é ligado aos documentos de identidade do usuário

[Grécia] Campo de Batalha Salonika: Violência Política se Agrava na MACEDÔNIA (2022)

Posted on 2025/05/15 - 2025/05/15 by holasoyp1x0

Publicado originalmente em 07 de Fevereiro de 2022, em Militant Wire.

Nota: A publicação original tem várias fotos que são propaganda dos grupos fascistas citados, pessoalmente não me sinto confortável espalhando esse conteúdo, por isso não vou republicar, mas se te der curiosidade, é só clicar no link ali de cima.

Os Ataques

Anarquistas de Thessaloniki reivindicaram separadamente, ataques que aconteceram em Janeiro de 2022, a veículos pessoais e apartamentos pertencentes a dois homens supostamente ligados ao grupo neofascista Sacred Company.

Em 10 de Janeiro, um carro pertencente a um ex-soldado do exército grego foi destruído, o homem é conhecido por ter ligação com fascistas, os responsáveis deixaram um dispositivo incendiário aceso no painel do carro antes de escaparem. No comunicado assumindo a responsabilidade pelos atos, os autores dedicaram os ataques de 10 de Janeiro ao despejo da okupa que existia há 34 anos, na Universidade Aristóteles de Thessalonik, no campus de biologia.

Apenas duas semanas depois, em 27 de Janeiro, um IID (dispositivo incendiário improvisado) construído com botijões de butano ou propano, foi deixado na entrada do prédio de outro homem, também alegadamente, membro da organização fascista Sacred Company. O IID foi detonado e como reportado, causou dano ao exterior do prédio. Os autores atribuíram esse segundo ataque ao aniversário da Crise Imia/Kardak (1996) – quando a Grécia e a Turquia quase entraram em guerra pela posse de uma ilha desabitada no Mar Egeu. O aniversário de Imia, e a morte de três oficiais da marinha grega durante o incidente é rememorado pela extrema-direita grega todo Janeiro.

Botijões de gás IID tipicamente utilizados pelos anarquistas gregos.

Após reivindicar os ataques, o comunicado clama por mais ações diretas contra fascistas:

Nós chamamos o mundo da militância antifascista a ação. Os dias em que fascistas agem e andam em sem medo precisam acabar. Sejam eles ΕΝΕΘ ou Sacred Company, sejam eles da parte oeste ou leste da cidade, devem ser esmagados em todos os bairros.

“ΕΝΕΘ” se refere ao movimento fascista em Thessaloniki que tem sido particularmente militante nos últimos anos, também chamada Juventude Nacionalista de Tessaloniki.

EΝΕΘ surge com a dissolução do partido-milícia Golden Dawn, após um julgamento onde foram classificados como organização criminosa. (A maioria dos líderes da Golden Dawn permanecem atrás das grades após serem indiciados por terem ordenado diretamente o assassinato do rapper antifascista Pavlos Fyssas, em 2013)

Thessaloniki: Uma incubadora da Direita

Nos últimos 4-5 anos, os grupos pós-Golden Dawn tem sido especialmente descarados no norte da Grécia, com os incidentes mais polêmicos sendo relacionados a temas que abrangem toda a direita. Em Novembro de 2017, a casa de um menino afegão refugiado que foi escolhido para carregar a bandeira grega durante um desfile nos feriados nacionais, foi violentamente apedrejada. Um grupo misterioso chamado “Krypteia” – inspirados pela “polícia secreta” Espartana que vagava pelo interior aterrorizando a população – assumiu o ato. Em seguida, Krypteia fez vários ataques criminosos contra imigrantes após seu líder, um professor universitário de 48 anos, foi preso em 2019. Em Janeiro de 2018, centenas de milhares de nacionalistas gregos tomaram as ruas de Thessaloniki, capital da Macedônia grega, para protestar pela mudança de nome da antiga República Iuguslava, Macedônia do Norte. Usando a mobilização de massas para agirem, militantes de direita avançaram pelas ruas, vandalizando um memorial do Holocausto e incendiando uma okupa anarquista, Libertatia, (cuja construção havia sobrevivido à ocupação nazista de 1940), depois de atacar um centro educacional anarquista, Sxolio. Meses depois, talvez inspirados por seus camaradas em Thessaloniki, outro recém formado grupo fascista, Apella, detonou múltiplos IIDs na okupa anarquista Piraeus Port. Os membros do Apella tiveram suas casas revistadas pela polícia, que encontrou várias armas e parafernália nazista, o líder do grupo, parece ser um antigo membro da Golden Dawn. É provável que os atuais afiliados a ΕΝΕΘ e Sacred Company, tenham sido responsáveis pelo ataque a Libertatia em Janeiro de 2021.

Libertatia squat, Thessaloniki, January 21, 2018

No Outono de 2021, Thessaloniki foi novamente chocada por uma série de ataques brutais, que duraram uma semana inteira. Estudantes de esquerda e aliados ativistas estavam protestando contra reformas na educação no lado de fora de uma escola técnica na vizinhança de Stavroupoli no oeste de Thessaloniki, quando foram repentinamente atacados por dezenas de membros da juventude fascista, todos de preto, encapuzados, com máscaras e capacetes de motocicleta, empunhando pedras, coquetéis molotov e armas brancas. Enquanto os grupos lutavam, os fascistas ocuparam o prédio da escola, pondo em ação o batalhão do choque (MAT) que assistia. Inicialmente o MAT parecia mais interessado em formar uma barreira entre os dois grupos, do que em expulsar os fascistas do campus, mas isso mudou quando os fascistas começaram a fazer a saudação romana e arremessar objetos contra a polícia. Agentes da MAT dispararam gás lacrimogêneo e balas de borracha até a juventude de direita dispersar. Embates como esse se repetiram no campus por vários dias, e em vários outros locais, inclusive no lado de fora de uma escola em Evosmos onde aproximadamente fascistas atacaram a polícia e jornalistas, até que uma série de mandatos de busca levaram a prisão das lideranças. O “Youth Front” (Frente da Juventude) da Golden Dawn parabenizou os perpetradores durante a semana de violência.

Sacred Company, assim como a extinta Golden Dwan, provavelmente está envolvida direta ou indiretamente com toda atividade da juventude paramilitar de direita em Thessaloniki. Eles estão ativos aproximadAmente desde 20,12, e parecem ser a ligação entre velhos cadres fascistas e os atuais movimentos da juventude fascistas juventude grega. Ambos dos supostos membros da Sacred Company alvos de ataques anarquistas em Janeiro de 2022 são membros mais velhos do movimento.

Conclusão

Com relação ao grupo que reivindicou os dois ataques em Janeiro, contra os supostos membros da Sacred Company, não é a primeira vez que ouvimos falar do Anarchist Against Oblivion. Recentemente eles atacaram a sede da juventude do governo de turno, New Democracy (ND), ΟΝΝΕΔ, com um IID similar ao usado no ataque de

7 de Janeiro contra o suposto membro da Sacred Company. Exceto pelo fato que empregam os mesmos métodos e escolha de alvo, não é sabido (ao menos para este presquisador) se o Anarchist Against Oblivion é formalmente alinhado com a rede mais ampla de grupos anarquistas de guerrilha urbana operando na Grécia desde 2021, a Direct Action Cells (DAC).

Supondo que Anarchists Against Oblivion é outra célula da DAC em Thessalonikim, como é a Organization of Anarchist Action (OAA), a esquerda e pós-esquerda militante na Grécia parece estar se consolidando sob uma mesma bandeira com muito mais sucesso que a extrema direita, que continua cambaleando após o julgamento da Golden Dawn.

Episódios recentes de violência em Thessaloniki são tentativas da extrema-direita de se reorganizar após a expulsão sua expulsão do parlamento. De dentro da sua cela, o líder da Golden Dawn, Ilias Kasidiaris, tem feito um esforço de criar um novo partido após a dissolução do GD. De todo modo, os movimentos de extrema direita de rua, parecem estar encontrando meios de uma vez mais, criarem alianças, conforme a administração da ND volta sua atenção para a fontes de maior “desrespeito a lei” como os enclaves anarquistas ao longo das cidades da Grécia e aparentemente ignora a miltância de direita.

Na Grécia, causas ultra-nacionalistas tem tido sucesso em mobilizar grandes números de gregos de direita pelas ruas de Thessaloniki, primariamente graças a sua proximidade com as fronteiras das Balcans e da Turquia, com que a Grécia tem relações conturbadas. Recentemente a rota de migrações em massa do Oeste das Balcans motivou repetidas mobilizações de rua da direita, e ataques contra centros acolhimento aos imigrantes. As políticas do New Democracy vem mirando nas ações de rua dos anarquistas e da extrema esquerda, fazendo com que esses redobrem seus esforços e intensifiquem seus ataques contra o estado e seus aparentes aliados da direita extra parlamentar. Por mais que Athenas seja historicamente o epicentro da violência política da Grécia, a segunda maior cidade do país vem nos relembrando seu lugar neste conflito de baixa intensidade.

[Grécia] A Organização que Anarquista vem travando uma Guerra contra a Polícia em Thessalonica (2021)

Posted on 2025/05/15 - 2025/05/15 by holasoyp1x0

Publicado originalmente em seis de dezembro de 2021, por WannabeWonk.

Em Thessaloniki, Grécia, Direct Action Cells (DAC) atacou a residência de oficiais da polícia após declarar guerra a Polícia Helênica [1]. A Organização de Ação Anarquista (OAA), como é conhecida a célula da DAC de Thessaloniki, publicou o nome e endereço de 21 oficiais ativos. Em 21 de Novembro, OAA publicou comunicados assumindo o ataque contra a casa de dois agentes, na manhã de 15 de Novembro, onde se descreve um “ataque explosivo de baixa potência” – os mesmos IID [2] utilizados pela DAC em ações anteriores.

(IDD deixado fora da casa de um policial em Thessaloniki).

O comunicado cita Nikos Sampanalis, o homem de 20 anos, de etnia romani, assassinado pela polícia em 22 de Outubro, após ser perseguido por supostamente dirigir um carro roubado.

(22 de Outubro, após os 22 disparos contra Sampanis)

O ataque veio logo após o mais recente escândalo envolvendo policiais locais, com crimes de abuso sexual e tráfico de pessoas. Em Novembro, um policial de 29 anos foi acusado de abusar de sua filha de quatro anos, meses antes outro policial foi acusado de prostituir sua filha adolescente e mante-la em cárcere privado.

O comunicado cita que em Julho, a OOA publicou o nome e endereços de policiais, os quais chama de “cafetões” e “assassinos uniformizados”, linguagem que aparece novamente no comunicado mais recente:

Em Julho, nós efetuamos um ataque expondo ao público 21 policias gregos […]. Meses atrás, nossos atos encontraram nossas palavras. A História nos mostra, assassinos e torturadores sempre irão sofrer na mão da violência revolucionária, a verdadeira justiça. É por isso que atacamos aos descendentes políticos dos torturadores do golpe, poucas horas após o aniversário da massacre de 73, como um tributo pela memória dos mortos na Politécnica.

Essa última frase se refere ao massacre de dezenas de pessoas durante protestos estudantis contra o Regime dos Coronéis, 17 de Novembro de 1973, que todos os anos é relembrado na Grécia e geralmente termina com conflitos violentos entre a polícia e os revoltosos.

(Danos na estação policial de Nea Iona, após ataque armado)

Curiosamente, por ter começado a mirar diretamente a polícia, no comunicado a OAA cita uma infame ataque armado contra uma estação da polícia em Nea Iona, realizado pela geração anterior de grupos de guerrilhas urbana anarquista, em 2007.

“…Para todos aqueles que defendem a normalidade social e a paz entre as classes, que, em toda revolta social, grande ou pequena, tenta marginalizar a parcela dos mais dinâmicos e politicamente ousados, que para eles são sempre “uma minoria” e “agem contra uma maioria pacifista”, nós devemos lembrar que a história das lutas sociais e de classe é escrita por pessoas determinadas a combater por seus ideias. Por pessoas que, mesmo que poucos em números, conseguem conectar, inspirar e mobilizar muitos mais, que conseguem ditar os termos da luta e criar legados para novos, maiores e mais decisivos esforços.” – Revolutionary Struggle – Ataque armado na estação de Perissos.

Revolutionary Struggle foi formado em 2003 e quase imediatamente pisou nos calos da infame organização terrorista vermelha, 17 de Novembro, após essa ter se desarticulado em 2002.

O comunicado da OAA conclui por reafirmar o chamado para a criação de uma rede de violência revoluocinária, apesar dos riscos cada vez maiores:

… esse conflito será violento, ilegal, militante e radical, sem compaixão por nenhum deles, usando de todos os meios para a punição adequada à tirania.

Camaradas lutadores, nós chamamos pelo seu apoio na prática da guerra revolucionária que travamos. Ergam as ferramentas que desafiam na prática a dominação do inimigo. Crie novos grupos, organizações, células de formação radical e violência revolucionária. Reenergizem o diálogo público unindo nossas resistências militantes e apoio ativo as redes de violência revolucionária que estão travando batalhas com suas forças, grandes e pequenas. Com memória insurgente por cada um dos mortos pelas mãos da polícia e por todo prisioneiro da guerra social e de classe. Nós convidamos você a seguir pelo caminho da guerra. Onde a vida se torna verdadeiramente significativa, encontrando a responsabilidade pelo dever histórico. A tarefa da subversão e da revolução.

(D. Chatzivasileiadis em custódia, Agosto 2021)

O comunicado reitera a indignação dos autores ao assassinato de Sampanis pela polícia, e a morte do imigrante grego que estava sob custódia da polícia Alemã no começo do ano.

No que está se tornando uma onda entre os anarquistas gregos, os autores também mencionam a morte de George Floyd sob a custódia da polícia de Minneapolis, no ano passado, uma comoção pública que foi a centelha para meses de protestos violentos por todos EUA em 2020. No último Outono, o anarquista e até então fugitivo Dimitris Chatzivasileiadis, repetidamente invocou o assassinato de George Floyd em um comunicado ondechamava por uma “semana de vingança” após o antifascista Michael Reinoehl[3] ser assassinado por uma força tarefa da polícia federal dos EUA, em meio os protestos de 2020. Chatzivasileiadis foi preso em Agosto, após meses foragido.

Nós temos o direito à revolta e a sermos determinados. E isso nos basta. Em Pireau seu nome era Nikos Sampanis; em Wuppertal, Gorgos Zantiotis; em Minneapolis, George Floyd. Em tantos outros lugares, ele nem nome tem, é apenas sangue nas mãos dos policias. Em centros de detenção, prisões e hospitais psiquiatricos, em bordas e cercas em Belarus, no Mar Egeu… Por essa sangrenta lista de vítimas da República, que cresce dia após dia de abusos, torturas e execução, uma só palavra ecoa: VINGANÇA!

Ataque sem misericórdia as forças de seguranças

Fogo as casas, estações de polícia e ministérios

(Kevin Fernández, 2018)

No que já é um elemento bem estabelecido entre anarquistas gregos, o comunicado encerra com uma nota em homenagem ao anarquista chileno Kevin Garrido Fernadez, que foi assassinado esfaqueado enquanto estava sob a custódia da polícia , em 2 de novembro de 2018.

Notas de Tradução

[1] – 17 Julho 2021.

[2] – Improvised Incendiary Devices

[3] Michael Reinoehl foi uma ativista antifacista, assassinado pela polícia de Portland em Agosto de 2020.

[Grécia] Anarquistas Saudam 2022 com Molotovs e Bomba de Butano

Posted on 2025/05/15 - 2025/05/15 by holasoyp1x0

Publicado originalmente em Militant Wire, em 01 de Janeiro de 2022.

A mais nova rede anarquista de guerrilha urbana, a Direct Action Cells (DAC), assumiu autoria de um ataque incendiário aos escritórios de uma empresa de construção em Tessalônica, ocorrido nas primeiras horas de primeiro de Janeiro de 2022. A “Célula Casus Bell” lançou um comunicado no mesmo dia, declarando que o ataque com molotovs contra os escritórios da PRAXIS EE Technical Contractors foi uma retaliação pelo desalojo da manhã anterior, de uma ocupação de 34 anos de idade na Universidade de Biologia Aristóteles. Na mesma data, um ataque separado com explosivos improvisados, teve como alvo a catedral Agios Pavlos em Atenas, o ataque ainda não foi reivindicado, mas carrega todos os indícios dos ataques prévios das operações da DAC.

Como parte das políticas atuais do governo para desalojar okupações de espaços urbanos na Grécia, e reintroduzir as polícias dentro dos campus das universidades, a okupa “Hangout Biological” no campus da Universidade Aristóteles foi desmontado nas primeiras horas da manhã de primeiro de Janeiro. A polícia fez a escolta de trabalhadores, que demoliram uma parede lateral da okupa à marretadas, ganhando acesso a salas de aula e confiscando vários equipamentos, de extintores de incêndio à hastes de madeira com bandeiras anarquistas. O espaço vinha sendo okupado desde 1988. Em resposta ao despejo, uma recém formada célula da DAC, a Casus Bell, atacou os escritórios da PRAXIS, empresa que recebeu milhões para realizar um contrato de revitalização urbana. A nota divulgada acusa o reitor da universidade de colaboração com a administração das políticas de lei-e-ordem da administração Mitsokanis, e vai além.

”

Trecho da declaração

A comunidade acadêmica oficialmente abre os braços para o militarismo e a repressão, com a reitoria podre emocionadamente agradecendo pessoalmente ao próprio Mitsoutakis. Essa é a Universidade de Tessalônica: uma matriz de colaboradores da repressão onde nascem os oficiais uniformizados da República […] Nós assumimos a responsabilidade pelo ataque incendiário no prédio da empresa de construção Praxis, na Rua Kromnis em Kalamaria, logo após a virada do ano. Praxis é a empresa contratada que demoliu a okupação. Nós atacaremos individualmente, cada um dos que apoiam a repressão contra os territórios libertados.

Nosso ataque é o primeiro reflexo de um movimento de solidariedade prática, com os esforços ao redor do mundo, que defendem até o fim as áreas de resistência, solidariedade e ataque. Uma mensagem de força, apoio e cumplicidade com cada camarada que individualmente insiste na negação, no questionamento, na guerra. Você nos encontrará ao seu lado a todo momento do conflito, em cada barricada, por que nós não terminados por aqui. Nós estamos preparando um novo ciclo de ataques na guerra de atrito, organizando novas células de ação direta. E nessa guerra nós chamamos cada iniciativa insurgente para a ação, afiando os confrontos, quantitativa, qualitativa e operacionalmente. Nós respondemos guerra com guerra. […] – Direct Action Cells – Célula Casus Belli

Anteriormente, a maioria dos ataques da DAC em Tessalônica foram reivindicados pela célula local, Organization of Anarchist Action, que vinha mirando especificamente em membros do alto escalão da polícia.

Em outra notícia. Uma explosão estremeceu a vizinhança de Omonia em Atenas, nas primeiras horas de 1° de Janeiro, quando um dispositivo explosivo improvisado (IED) detonou do lado de fora da catedral Agios Pavlos. Supostamente o dispositivo foi confeccionado com um “botijão de gás”, o que sugeriria, mas não confirma, mais um ataque da DAC, já que tanto células em Atenas quanto em Tessalônica tem frequentemente usado IEDs construídos à partir de botijões de gás butano. Apesar dos métodos semelhantes aos da DAC, é importante perceber que a Igreja Ortodoxa Grega é um alvo popular por uma variedade de grupos que operam na Grécia. Além disso, as células de Atenas da DAC parecem preferir executar múltiplos ataques antes de lançarem um comunicado assumindo a responsabilidade por múltiplos ataques similares, usando IEDs construídos com botijões de butano, ou coquetéis molotovs e geralmente são fotografados e filmados pela célula. Até agora, não há conexão entre o ataque de Agios Pavlos e a célula local da DAC.

2021 foi o ano de estreia das operações da DAC, e seus ataques vêm sendo consistentes em métodos, alvos e retórica dos comunicados. As aspirações estratégicas primárias do grupo é desenvolver uma rede de “violência revolucionária” não apenas na Grécia, mas também ao redor do mundo, encorajando ideologicamente membros alinhados à esquerda radical e movimentos anarquistas a executarem ataques em alvos do “Estado e capital”. Até agora eles vem sendo bem sucedidos em estabelecer uma rede através da Grécia continental, de Atenas até Volos e Tessalônica. Se essa rede vai se espalhar através da Grécia para incluir, por exemplo, comunidades [na ilha de] Creta, ou mesmo avançar para dentro da Europa onde esses grupos têm simpatizantes, como na Itália ou Alemanha, é algo a ser observado, mas até então, não aconteceu.

[EUA] Janes Revenge – Grupo reivindica ataque incendiário contra organização anti-aborto em primeiro comunicado [10.05.2022]

Posted on 2025/05/15 - 2025/05/15 by holasoyp1x0

“Nós estamos na sua cidade. Nós estamos em todas as cidades.”

Nos Estado Unidos o fascismo avança a passos largos. Nas últimas semanas, mulheres e a juventude trans, têm sofrido duros ataques em forma de manobras legais, que não tem outro objetivo além de perseguir e facilitar o extermínio, judicial ou extra judicial, de todes que resistam ao projeto de poder do cristofascismo.

Nesse cenário, com a extrema direita se preparando para revogar o direito ao aborto em vários estados, e o acirramento da violência contra clínicas e profissionais de saúde, um grupo chamado Janes Revenge surge reivindicando o ataque incendiário contra a sede de um grupo anti-aborto de Ohio.

“Se os abortos não estão seguros, então vocês também não estão”

“Primeiro Comunicado.

Essa não é uma declaração de guerra. A guerra está sob nossas cabeças há décadas. Uma guerra que nós não queremos, e não provocamos. Há muito temos sido atacadas por reivindicar o mais básico tratamento médico. Há muito temos sido alvo de balas e bombas, forçadas a parir.

Isso foi apenas um aviso. Nós exigimos o desmantelamento de todos os estabelecimentos anti-escolha, as clínicas falsas [1], e os violentos grupos anti-escolha dentro dos próximos trinta dias. Essa não é uma mera “diferença de opinião” como alguns tem dito. Nós estamos literalmente lutando por nossas vidas. Nós não vamos aguardar sentadas enquanto somos assassinadas e forçadas a servidão. Nos sobra pouca paciência ou misericórdia por aqueles que querem nos arrancar o pouco de autonomia que nos resta. Enquanto vocês seguirem bombardeando clínicas e assassinando médicos impunemente, nós também devemos adotar táticas mais extremas para manter a liberdade de nossos corpos.

Nós somos forçados a adotar uma condição militar mínima para a luta política. Novamente, esse foi apenas um aviso. Na próxima vez a infraestrutura dos escravagistas será posta abaixo. O imperialismo médico não vai encontrar um inimigo passivo. Wisconsin é o ponto de partida, mas nós estamos em todos os cantos dos Estados Unidos, e não haverá mais avisos.

E nós não iremos parar, nós não vamos recuar, nem vamos hesitar em atacar até que o inalienável direito de decidir sobre nossa própria saúde nos tenha retornado.

Nós não somos um grupo, mas muitos. Nós estamos na sua cidade. Nós estamos em todas as cidades. Sua repressão apenas fortalece nossa cumplicidade e nossa vontade.

– Janes Revenge”

[1] Diversos grupos anti-aborto tem criado clínicas que cooptam a linguagem das clínicas de planejamento familiar, para confundir as mulheres e convence-las a não abortar.

A História de Jane – O nome do grupo militante, é uma referência direta ao Janes Collective, um grupo clandestino de mulheres que aturaram em Chicago, nos anos 70, quando o aborto ainda era ilegal. Elas ajudavam outras mulheres, especialmente as mais pobres, que precisassem interromper a gestação. Tinham uma infraestrutura de apoio emocional para as pacientes e familiares. Foram 11.000 mulheres atendidas e apenas uma morte, de uma moça que já havia chego até elas, após tentar métodos abortivos em casa. Para saber mais sobre a história do Coletivo, ouça o Cool People Who Did Cool Stuff.

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